O ex-senador Cássio Cunha Lima voltou as cenas da política paraibana nesta última semana.
O projeto familiar lançado pelo PSDB escolheu o réu na operação calvário para defender seus interesses nas eleições de 2022. Romero Rodrigues, que é primo de Cássio, será o nome da oposição caricata liderada por Wallber Virgolino, Cabo Gilberto e Nilvan Ferreira para disputar o governo do estado.
Apesar de não confirmar sua candidatura, é provável que Cássio dispute uma vaga na Câmara dos Deputados, eleição mais fácil e garantida que a disputada vaga ao senado federal. Com isso, ajudaria na cooptação de lideranças para a candidatura de Romero e para a reeleição de Bolsonaro, assim como engordaria o caixa do PSDB na repartição do fundo partidário e eleitoral, já que a divisão é feita baseada no número de cadeiras que cada partido conquista.
No bojo do anúncio de Romero, Cássio tentou criar a narrativa de um PSDB “independente”, dando liberdade ao eleitor para decidir o presidente que bem entender.
Agora que Bolsonaro amarga 60% de rejeição, e apenas 25% aprovam seu (des)governo, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, Cássio ensaia abandonar o presidente para salvar Romoro de uma fragorosa derrota em 2022.
Mas a história não é bem essa.
A ligação de Romero com Bolsonaro é umbilical, a ponto do presidente da República se dizer “apaixonado por Romero” durante sua entrevista ao programa 60 minutos da rádio arapuan, e acrescentou: “a eleição passa pelo Romero”.
E Romero o fez por merecer. Já que não foram poucos os gestos, acenos e agrados ao presidente, que visitou Campina Grande em pelo menos três oportunidades para retribuir o apoio.
Por exemplo, foi Romero enquanto prefeito, seguindo a cartilha bolsonarista de promoção da pandemia, que liberou para a população o acesso ao KIT COVID, com direito a cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento precoce, travou batalha judicial até o STF, para não cumprir as medidas restritivas previstas em decretos estaduais, que pretendiam diminuir a contaminação e evitar o colapso do sistema de saúde.
Já na gestão do seu sucessor, Bruno Cunha Lima, houve a criminosa negativa de regulação de leitos para pacientes de outras regiões da Paraíba serem atendidos em Campina Grande, criando a “fila da morte” com mais de 60 pessoas aguardando uma vaga de UTI, enquanto os hospitais de Campina permaneciam vazios.
Apesar das tentativas de Cássio de apagar o apoio e parceria com Bolsonaro do currículo de Romero, a verdade é que a eleição de Bolsonaro passa por Campina Grande e a marca do bolsonarismo está gravada nas ações do ex-prefeito, que escolheu negar a ciência para agradar seu futuro padrinho político.
Cássio é vivido, experiente, sabe que mais cedo ou mais tarde, para salvar Romero, vai abandonar Bolsonaro. Para isso, já deu o primeiro passo.
Veremos como o bolsonarismo raiz irá reagir.
Por J. Laurentino
Esse texto foi recebido por colaboração independente e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal NegoPB.