Áudios divulgados pela CNN Brasil nesta quinta-feira (5) revelam uma conversa entre Ailton Barros, ex-militar e advogado, e Mauro Cid, em que Barros sugere que o então comandante do Exército, Freire Gomes, ou o presidente Jair Bolsonaro deveriam fazer um pronunciamento em defesa do povo brasileiro.
Barros afirma que Gomes ou Bolsonaro deveriam se posicionar publicamente em relação aos recentes conflitos entre o STF e o governo federal, para “levantar a moral da tropa”. Ele destaca que, caso Gomes não aderisse, Bolsonaro deveria fazer o pronunciamento.
O ex-militar ainda ressalta a importância de ter todos os atos e decretos prontos até o dia seguinte, 16 de dezembro, para garantir que tudo fosse feito dentro das “quatro linhas”. Barros sugere que, caso fosse necessário, as ações poderiam ocorrer “fora das quatro linhas”, e que seria necessário “decretos e portarias” para que o comandante da brigada de operações especiais de Goiânia pudesse prender Alexandre de Moraes na casa dele.
“Pô [sic], não é difícil. O outro lado tem a caneta, nós temos a caneta e a força. Braço forte, mão amiga. Qual é o problema, entendeu? Quem está jogando fora das quatro linhas? Somos nós? Não somos nós. Então nós vamos ficar dentro das quatro linhas a tal ponto ou linha? Mas agora nós estamos o quê? Fadados a nem mais lançar. Vamos dar de passagem perdida?”, indaga.
Ailton Barros, ex-major do Exército em conversa com o tenente-coronel Mauro Cid
Ailton continua descrevendo o plano, afirmando que “se for preciso, vai ser fora das quatro linhas”. “Nos decretos e nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da brigada de operações especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele”, adiciona.
Barros propõe que, na segunda-feira, 19 de dezembro, fossem lidos os decretos de garantia da Lei e da Ordem, e que as Forças Armadas fossem colocadas em ação, tendo em vista que o Comandante Supremo é o presidente da República. Não foi possível saber a resposta de Mauro Cid a Barros.
As conversas entre Barros e Cid foram gravadas em 15 de dezembro de 2022.
Cabe ressaltar que atos dessa natureza configuram graves ameaças à democracia e ao Estado de Direito. As instituições brasileiras têm a obrigação de garantir a ordem constitucional e impedir qualquer tentativa de violação da lei.
Quem é o general Freire Gomes
O general Freire Gomes, que comandou o Exército Brasileiro entre março e dezembro de 2022, nasceu em Pirassununga, interior de São Paulo, em 1957. Ele é filho do coronel de Cavalaria do Exército Francisco Valdir Gomes e de Maria Enilda Freire Gomes.
Freire Gomes se formou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), em 1980, e fez diversos cursos de formação, aperfeiçoamento e especialização no Brasil e no exterior, incluindo gerenciamento de crise, contraterrorismo e coordenação de intransigências nos Estados Unidos e Senior Mission Leaders Course no Egito.
Ao longo de sua carreira, ele serviu em diversas unidades militares e ocupou vários cargos de liderança no Exército, incluindo comandante da Brigada de Operações Especiais e do Comando de Operações Especiais, comandante da 10ª Região Militar, secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional e comandante militar do Nordeste.
Entre março e dezembro de 2022, Freire Gomes foi comandante do Exército Brasileiro.