Harvard enfrenta Trump após rejeitar exigências do governo
A Universidade de Harvard está enfrentando o presidente Donald Trump em meio a uma escalada de ataques do governo federal ao ensino superior. Nesta semana, a administração Trump anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões em bolsas federais e US$ 60 milhões em contratos com Harvard, depois que a universidade recusou ordens para eliminar todas as iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), reprimir ainda mais protestos pró-Palestina — incluindo denunciar estudantes internacionais às autoridades federais —, entre outras exigências.
O presidente de Harvard, Alan Garber, enviou uma carta à comunidade acadêmica afirmando:
“A universidade não abrirá mão de sua independência nem de seus direitos constitucionais. Nenhum governo — seja qual for o partido no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”.
Em resposta, Trump publicou na rede Truth Social:
“Talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser tributada como uma entidade política se continuar promovendo essa ‘doença’ política, ideológica e inspirada por terroristas. Lembre-se: a isenção fiscal depende totalmente de agir no INTERESSE PÚBLICO!”.
Durante coletiva de imprensa, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que Harvard deve seguir a lei federal e pediu que a universidade se desculpe pelo “antissemitismo flagrante” em seu campus. Sobre a ameaça de retirar a isenção fiscal, ela encaminhou a questão ao IRS (Receita Federal dos EUA).
Harvard também se juntou a outras universidades em um processo contra o Departamento de Energia devido aos cortes em financiamentos federais para pesquisa.
O professor Andrew Manuel Crespo, da Faculdade de Direito de Harvard e conselheiro-geral do capítulo local da Associação Americana de Professores Universitários, explicou no Democracy Now! que a universidade entrou com uma ação judicial para bloquear os cortes, argumentando que são inconstitucionais e representam uma ameaça à liberdade acadêmica, protegida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.
Segundo Crespo,
“O que o governo Trump está tentando fazer é usar pressão coercitiva e ameaças para forçar as universidades a adotarem a agenda ideológica do governo. Eles querem controlar o que é dito nas salas de aula, nos campi, o que pesquisamos, escrevemos, as perguntas que fazemos e as respostas que damos, de modo que tudo se encaixe na agenda deles. Isso é perigoso e inconstitucional. Fomos à Justiça para impedir que isso aconteça”.
Entre as exigências do governo estão o fechamento de todos os programas e escritórios ligados à DEI, auditoria federal de todos os cursos e departamentos, e a contratação de novos professores indicados pelo governo para garantir o “equilíbrio ideológico” desejado pela administração Trump. Crespo compara essas medidas a práticas autoritárias vistas em países como Hungria e Rússia.
O professor ressalta que Harvard, com seu orçamento bilionário, está em posição privilegiada para resistir, mas que outras universidades públicas e privadas já começaram a ceder à pressão federal. Ele defende que apenas uma resposta coletiva do setor pode conter o avanço dessas ameaças à autonomia universitária.
Por fim, Crespo destaca que os cortes ameaçam não só a pesquisa científica e médica, mas também o ensino de história, direito, artes e humanidades, pilares de uma sociedade democrática e plural.
“Se você enfraquece suas universidades, está enfraquecendo seu país”, conclui.
Fonte: Democracy Now! é um programa independente de notícias que oferece reportagens e entrevistas aprofundadas sobre temas globais, com foco em justiça social, direitos humanos e democracia.