O PIX na mira de Trump: entenda o que está por trás da investida dos EUA

Os Estados Unidos iniciaram uma investigação interna contra o Brasil, alegando “práticas comerciais desleais” que incluem o sistema de pagamentos instantâneos Pix. A medida, anunciada pelo Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, em um documento intitulado “Investigação da Seção 301 sobre Práticas Comerciais Desleais no Brasil”, tem gerado preocupação e levanta questões sobre a interferência externa na soberania econômica brasileira, especialmente no que tange aos seus próprios meios de pagamento internos.

As críticas norte-americanas ao Pix são multifacetadas, mas parecem ter como principal motor a concorrência direta com plataformas como o WhatsApp Pay e grandes empresas de cartão de crédito dos EUA. Além disso, a ascensão do Pix como uma alternativa ao dólar em algumas transações internacionais é vista com preocupação por Washington.

Uma das razões especuladas para a ação dos EUA remonta a 2020, quando o Banco Central (BC) brasileiro suspendeu o lançamento do WhatsApp Pay no país, apenas uma semana após o anúncio de sua funcionalidade. A medida do BC e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) visava, à época, avaliar riscos e garantir o bom funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), bem como abordar potenciais riscos de concorrência. A economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, reforça que a decisão do BC foi acertada, pois o WhatsApp buscava transacionar dinheiro fora do sistema financeiro regulado.

Outro ponto de atrito, segundo Mello, é o fato de o Pix ter se tornado uma opção ao dólar em transações internacionais realizadas por brasileiros, notadamente em países como Paraguai e Panamá, onde comerciantes já aceitam pagamentos via Pix. Essa dinâmica, que reduz a demanda pela moeda americana, é interpretada como prejudicial aos interesses de controle dos EUA. A iminente chegada do “Pix Parcelado”, prevista para setembro de 2025, que permitirá o parcelamento de transações de forma similar aos cartões de crédito, também ameaça o mercado dominado pelas operadoras americanas.

Ainda que as críticas se intensifiquem, especialistas e autoridades brasileiras defendem o Pix como um sistema de pagamento eficiente e inclusivo. Ele tem desempenhado um papel fundamental na promoção da inclusão financeira, oferecendo transações monetárias acessíveis a indivíduos de baixa renda e pequenas empresas, e consolidando a autonomia do Brasil na gestão de sua infraestrutura de pagamentos digitais.

A investigação conduzida pelos Estados Unidos não é apenas um procedimento formal; ela é uma defesa explícita dos interesses comerciais americanos, especialmente daqueles representados por gigantes do setor de cartões de crédito como Visa e Mastercard. Essas empresas, que se veem diretamente ameaçadas pela ascensão e sucesso do Pix no Brasil, exercem uma pressão que revela um choque direto entre seus interesses financeiros e a soberania brasileira, nosso interesse nacional e soberania.

Os Estados Unidos deixam evidente a lógica de sua política externa: uma abordagem totalmente vocacionada para a defesa do grande capital e de suas próprias corporações, colocando esses objetivos acima de quaisquer outras considerações. Resta-nos questionar quando (ou se) a sociedade brasileira compreenderá plenamente essa realidade.