Uma das maiores associações mundiais de especialistas em genocídio declarou oficialmente que as ações de Israel na Faixa de Gaza correspondem à definição legal de genocídio conforme a Convenção das Nações Unidas de 1948. A resolução, aprovada por 86% dos 500 membros da International Association of Genocide Scholars (IAGS), detalha diversos atos cometidos por Israel que configuram genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A resolução da IAGS, que inclui renomados estudiosos do Holocausto, destaca ataques do exército israelense contra civis, especialmente crianças, além de destruição sistemática da infraestrutura crítica, como hospitais, escolas e centros de ajuda humanitária. Estima-se que 50 mil crianças foram mortas ou feridas nos últimos 22 meses de conflito, segundo dados da UNICEF, afetando gravemente a capacidade de sobrevivência da população palestina.
O documento também chama atenção para a política de remoção forçada de palestinos e a destruição generalizada de casas na região. Líderes israelenses foram citados com declarações que desumanizam os habitantes de Gaza, reforçando o discurso de que Gaza deve ser “achatada” e transformada em “inferno”.
Israel rejeita as acusações, considerando a resolução “um embaraço para a profissão jurídica” e afirmando que suas ações são uma forma legítima de autodefesa contra o grupo Hamas, que iniciou o conflito em 7 de outubro de 2023 com ataques que mataram cerca de 1.200 pessoas e raptaram 251 reféns.
Entretanto, a IAGS e praticamente todas as organizações de direitos humanos de caráter global e humanitário destacam a enorme proporção de mortes civis — mais de 63 mil palestinos mortos, metade mulheres e crianças — e a situação catastrófica, incluindo bloqueios que provocam fome e falta de água e combustível.
A tragédia se agrava ainda mais com a situação dos hospitais, desde o dia 7 de outubro de 2023, cerca de 20 dos 22 hospitais no norte da Faixa de Gaza foram danificados ou destruídos, com pelo menos 14 sendo atingidos diretamente por bombardeios israelenses. Atualmente, restam em Gaza menos de 2 mil leitos hospitalares para uma população de mais de 2 milhões de pessoas, e os últimos hospitais operacionais enfrentam sérias dificuldades, alguns cercados por tropas israelenses, o que impede a entrada e saída de pacientes e suprimentos.
Embora Israel não admita, a declaração dos especialistas aumenta o isolamento internacional do país e reforça o debate jurídico em andamento na Corte Internacional de Justiça, onde acusações formais de genocídio estão sendo analisadas. A resolução apela à comunidade global para que impeça imediata e efetivamente tais crimes, proteja os civis e responsabilize os líderes israelenses envolvidos.
Especialistas destacam que o genocídio não precisa ocorrer exclusivamente por meios tradicionais como câmaras de gás, mas também pode ser caracterizado por políticas sistemáticas que causem destruição parcial ou total de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como ocorre em Gaza.
Global Sumud Flotilha: solidariedade internacional pela vida em meio ao cerco a Gaza

A Global Sumud Flotilha, considerada a maior ação solidária internacional via marítima rumo à Faixa de Gaza da história, reúne mais de 50 embarcações com ativistas, organizações políticas e pessoas comuns de mais de 44 países, incluindo a ativista ambiental Greta Thunberg. Com mais de 28 mil inscritos em sua mobilização global, a flotilha tem como objetivo romper o bloqueio e cerco militar de Israel à Gaza, levandando comida, medicamentos, fórmula infantil e outros suprimentos essenciais para as milhares de crianças, idosos, jornalistas e civis que enfrentam a fome, a falta de remédios e a constante bombardeios.
A missão brasileira será composta pelos ativistas Thiago Ávila, Bruno Gilga Rocha, Lucas Farias Gusmão, João Aguiar, Mohamad El Kadri, Magno Carvalho Costa, Ariadne Telles, Lisiane Proença, Carina Faggiani, Victor Nascimento Peixoto e Giovanna Vial; a vereadora de Campinas Mariana Conti (PSOL) e a presidenta do PSOL do Rio Grande do Sul, Gabrielle Tolotti.
Segundo a Freedom Flotilla Brasil e o Global Movement to Gaza Brasil, a intenção da ação é criar um corredor humanitário para o transporte de comida, água e medicamentos para o povo palestino. Eles pretendem também romper o controle israelense sobre Gaza.
A saída da flotilha acontece em meio à decisão do governo israelense de ocupar totalmente a Cidade de Gaza, numa chamada “solução final” que muitos especialistas, ativistas e organizações humanitárias de todo mundo acusam Israel de cometer genocídio contra o povo palestino, uma lista que só aumenta, incluindo agora a International Association of Genocide Scholars (IAGS).
Apesar disso, o Ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, declarou publicamente que todos os ativistas da Global Sumud Flotilha serão tratados como terroristas. E foi além, afirmando que os detidos ficarão em prisões de segurança máxima, com detenção prolongada e sem acesso a meios básicos como rádio, TV ou alimentação digna. Essa ameaça busca intimidar o movimento humanitário não violento que ganha apoio crescente em diversas partes do mundo.
Em resposta, portuários de Gênova, na Itália, prometeram interromper as atividades nos portos europeus caso perca-se o contato com as embarcações da flotilha, indicando uma solidariedade forte da classe trabalhadora internacional. No Brasil, diversas entidades e movimentos, especialmente metroviários, estão se mobilizando para acompanhar, divulgar e realizar manifestações em apoio à Global Sumud Flotilha, incluindo um ato previsto para o dia 13 de setembro.
A flotilha simboliza a resistência global contra o cerco que tem causado fome e morte em Gaza, reafirmando o compromisso internacional com a defesa dos direitos humanos e a solidariedade com o povo palestino.