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Igreja Católica é lenta para ajudar vítimas de abuso, diz comissão

A Igreja Católica segue sendo duramente criticada por sua lentidão e falta de transparência ao lidar com casos de abuso sexual cometidos por membros do clero, conforme aponta o mais recente relatório anual da Comissão de Proteção à Criança do Vaticano, divulgado nesta quinta-feira. O documento, que ultrapassa cem páginas, é o mais substancial já produzido pelo órgão desde sua criação pelo então papa Francisco, em 2014, e representa uma análise contundente sobre a aplicação de medidas protetivas e o tratamento dado às vítimas em todo o mundo.

O relatório destaca que, apesar dos esforços de reforma iniciados por Francisco — que incluem a criação de um sistema global de denúncias e o fortalecimento da comissão —, os líderes católicos ainda falham em responder com a urgência necessária às denúncias de abuso. Em muitos casos, as respostas institucionais são classificadas como insatisfatórias, marcadas por acordos sem substância, gestos simbólicos e uma resistência em estabelecer diálogo franco com as vítimas. Para essas pessoas, a sensação de desamparo é agravada pela ausência de informações sobre o andamento das investigações e as punições aplicadas a bispos negligentes.

A falta de transparência é um ponto recorrente nas críticas. O Vaticano raramente informa publicamente os motivos de remoção de bispos em casos de abuso ou acobertamento, optando por comunicar apenas a “aceitação da renúncia” pelo papa, o que gera impunidade e desconfiança. O relatório recomenda explicitamente que a Igreja torne públicos os motivos dessas remoções, afirmando que a falta de prestação de contas dos líderes é uma das principais reclamações entre as vítimas.

O problema também é estrutural. O Dicastério para a Evangelização, responsável por supervisionar as operações da Igreja na maioria dos países em desenvolvimento, tem apenas um funcionário dedicado às questões de proteção, o que, segundo o relatório, resulta em atrasos e confusão na gestão das denúncias. A má distribuição de tarefas entre os departamentos do Vaticano contribui para demoras e deficiências no tratamento das queixas.

Internacionalmente, a situação é variada. Enquanto países como a Coreia do Sul responderam integralmente a questionários enviados pela comissão, na Itália, apenas 81 das 226 dioceses colaboraram, evidenciando a resistência de parte do episcopado em se alinhar às novas políticas. Ainda assim, o texto reconhece avanços em algumas localidades, como programas de formação, facilitação de denúncias e acompanhamento de reparos às vítimas, mas ressalta que tais esforços ainda são insuficientes para garantir uma mudança efetiva de cultura.

A questão das reparações é central no documento, que analisa a responsabilidade da Igreja em acompanhar as vítimas em sua jornada de cura, além de propor diretrizes para compensações financeiras e apoio pastoral. Entretanto, o relatório destaca que as reparações não podem ser apenas materiais, mas devem incluir um processo de escuta e acolhimento das vítimas.

O novo papa, Leão XIV, eleito após a morte de Francisco, demonstrou interesse em dar continuidade à agenda de proteção e reuniu-se com membros da comissão, promovendo a renovação de sua liderança. No entanto, as expectativas por uma política global de tolerância zero seguem insatisfeitas, conforme apontam sobreviventes e defensores das vítimas. O impasse histórico entre mudança institucional e manutenção de estruturas pouco transparentes permanece um dos maiores desafios para a credibilidade da Igreja, abalada décadas de escândalos e custos milionários em indenizações.

O relatório confirma, portanto, um cenário de avanços tímidos, descompasso entre discurso e prática, e uma persistente lacuna entre a urgência necessária e a lentidão institucional. O caminho para a credibilidade, sugere o documento, passa por maior transparência, responsabilização de líderes e uma atitude efetiva de proteção, escuta e reparação às vítimas, que seguem aguardando respostas concretas e justiça das mais altas instâncias da Igreja Católica.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
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