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Estudo prevê substituição de roedor em testes antiveneno de serpentes

A bióloga Renata Norbert, do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desenvolveu uma pesquisa inovadora que propõe substituir o uso de camundongos por ensaios in vitro para o controle da qualidade dos soros antiofídicos contra o veneno das serpentes do gênero Bothrops, responsáveis pela maior parte dos acidentes ofídicos no Brasil. O estudo recebeu reconhecimento internacional, sendo premiado pela Sociedade Europeia para Alternativa de Testes em Animais durante o 13º Congresso Mundial de Alternativas ao Uso de Animais, além de ter recebido menção honrosa do Centro Nacional para a Substituição, Refinamento e Redução de Animais em Pesquisa, do Reino Unido.

A pesquisa representa um avanço significativo, pois alcançou a fase inédita de pré-validação, até agora inexistente para antivenenos em nível mundial, superando as etapas preliminares vigentes para outros tipos de produtos, como cosméticos. Atualmente, o método está na etapa final, que envolve a reprodutibilidade da técnica em laboratórios externos, buscando comprovar a robustez e a confiabilidade da metodologia desenvolvida.

O enfoque do estudo consiste na substituição dos camundongos por células Vero cultivadas em laboratório, que, após fixação em placas, são expostas a uma mistura de soro com veneno do Bothrops. Se as células permanecem intactas, o soro é aprovado, o que indica a neutralização eficaz do veneno; se manifestam efeitos tóxicos, o soro é reprovado. Essa tecnologia promete resultados mais rápidos e económicos, com uma redução de até 69% nos custos em comparação aos testes tradicionais que utilizam roedores, além de eliminar o sofrimento dos animais envolvidos, que passam por procedimentos invasivos e são posteriormente sacrificados.

Como contexto, as serpentes do gênero Bothrops, que incluem jararacas, cotiaras e urutus, são as responsáveis por 90% dos casos de envenenamento por cobras no Brasil, com mais de 12 mil acidentes registrados só em 2025 pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A cadeia produtiva dos antivenenos inclui diversas etapas de controle de qualidade internas, sendo que o INCQS realiza o teste final com uso significativo de camundongos para a liberação dos lotes ao Programa Nacional de Imunização (PNI).

O uso da metodologia in vitro oferecerá agilidade na liberação dos resultados — aproximadamente uma semana frente a mais de um mês nos testes com camundongos — e permitirá que laboratórios produtores adotem a técnica por meio de kits de ensaios, que facilitarão a replicação e a comparação dos resultados em múltiplas instituições. A intenção é submeter os dados para validação na farmacopeia brasileira e expandir o uso do método para além do Brasil, beneficiando também países que enfrentam envenenamentos por cobras Bothrops, como a Costa Rica.

Renata Norbert destaca que o reconhecimento internacional recebido é um incentivo fundamental para a continuidade da pesquisa, com expectativa de implementação prática do método a partir de março de 2026. A nova abordagem apresenta significativo impacto ético e científico, alinhando rigor técnico ao enfrentamento dos desafios do controle de qualidade dos antivenenos, ao mesmo tempo em que reduz o uso e o sofrimento animal na pesquisa.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)