A operação policial realizada nesta semana nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, entrou para a história do estado como a mais letal já registrada, segundo informações oficiais. O balanço mais recente aponta 121 mortos, incluindo quatro policiais, durante a ação batizada de Operação Contenção. Mais de 2.500 agentes foram mobilizados, o que causou bloqueios em ruas, suspensão de aulas em 83 escolas e paralisações no transporte público. Moradores afirmam ter encontrado dezenas de corpos em áreas de mata e relatam que parte deles foi levada para a região da Praça São Lucas, na Penha.
A estratégia policial, chamada de “Muro do Bope”, envolveu o cerco aos suspeitos empurrando-os para uma área de mata, onde equipes do Batalhão de Operações Especiais já estavam posicionadas. O Ministério Público do Rio de Janeiro já determinou a checagem das câmeras corporais usadas pelos policiais, além do recolhimento de laudos de necropsia, exames de balística e depoimentos para apurar os fatos. O procurador-geral de Justiça do estado, Antônio Campos Moreira, destacou a complexidade da investigação, já que parte do confronto ocorreu em mata fechada, mas reafirmou o compromisso com uma apuração técnica.
A repercussão do episódio ultrapassou as fronteiras do Brasil, com veículos internacionais, como o New York Times, descrevendo a ação como a mais mortal da história do Rio. A dimensão da tragédia acendeu o debate sobre políticas de segurança pública e direitos humanos no país.
Na Câmara dos Deputados, parlamentares das federações Psol-Rede e PT-PCdoB-PV criticaram duramente a operação, classificando-a como uma “chacina” e exigindo mudanças no modelo de segurança do estado. O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Reimont (PT-RJ), comparou a ação à chacina do Carandiru e alertou para o padrão de violência repetido em operações policiais. A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) apontou a “falta de planejamento” do governo estadual e condenou o banho de sangue que, segundo ela, destrói famílias há décadas, sem solucionar o problema da violência.
Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a operação como “a mais letal da história do Rio” e defendeu a aprovação da PEC da Segurança, defendendo mais inteligência e integração no combate ao crime. Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse que a política do governador Cláudio Castro transforma medo e morte em palanque eleitoral, em vez de investir em inteligência e proteção à população. O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) relatou ainda que quatro jovens de sua igreja, sem envolvimento com o crime, estão entre as vítimas, denunciando o abuso de autoridade e a falta de responsabilização pelo Estado.
No entanto, parlamentares de partidos de direita saíram em defesa da atuação policial. Rodrigo Valadares (União-SE) afirmou que a operação foi necessária para conter o crime organizado e garantir a segurança da população. Delegado Caveira (PL-PA) e Sargento Gonçalves (PL-RN) defenderam a legítima defesa da sociedade e a coragem dos policiais que atuam sob risco diário nos territórios controlados por criminosos.
Testemunhas, familiares e lideranças comunitárias confirmaram à imprensa relatos de execuções e torturas durante a operação. O principal cenário do confronto, segundo os relatos, ocorreu na mata entre os dois complexos, onde corpos apresentando sinais de violência foram encontrados dezenas de metros distantes uns dos outros, sugerindo execuções sumárias. O Ministério Público promete ouvir as testemunhas e investigar todos os fatos de forma independente, enquanto parlamentares da Comissão de Direitos Humanos da Câmara anunciaram que vão visitar o Complexo do Alemão, o IML, a Defensoria Pública e a Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar as investigações e ouvir familiares das vítimas.
O caso expõe de maneira dramática a crise de segurança pública e direitos humanos no Rio de Janeiro, que há anos repete o ciclo de operações violentas, resultados trágicos, comoção pública e poucas mudanças estruturais. Enquanto as autoridades de segurança defendem ações de força como necessárias, setores da sociedade civil, parlamentares e organizações de direitos humanos cobram transparência, responsabilização e uma política de segurança pautada pela inteligência, prevenção e proteção das populações mais vulneráveis.

