A Operação Contenção, deflagrada no dia 28 de outubro de 2025 pelos agentes das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, marcou-se como a ação policial mais letal na história recente do estado. Com o objetivo de conter a expansão do Comando Vermelho nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, a operação mobilizou cerca de 2.500 policiais e envolveu um arsenal tecnológico e logístico robusto, incluindo drones, helicópteros, veículos blindados e de demolição. O saldo final foi de 64 mortos — sendo 60 suspeitos e quatro policiais —, além de 81 prisões e a apreensão de dezenas de armas, principalmente fuzis, e artefatos explosivos.
A ação, fruto de mais de um ano de investigação e de dois meses de planejamento operacional, foi caracterizada por intensos confrontos em áreas urbanas e também em regiões de mata fechada, o que dificultou a apuração imediata dos fatos. Grupos criminosos reagiram promovendo bloqueios em vias públicas, com barricadas em chamas e até o lançamento de explosivos via drones, causando um cenário de guerra urbana que impactou diretamente a população local. Escolas suspenderam suas atividades e serviços públicos sofreram interrupções devido à insegurança na região.
O Ministério Público do Rio de Janeiro anunciou que irá proceder à análise dos vídeos captados pelas câmeras corporais dos policiais envolvidos na operação, além de colher depoimentos, laudos necroscópicos e de confronto balístico para formar uma visão técnica dos acontecimentos. O procurador-geral de Justiça, Antônio Campos Moreira, enfatizou que a apuração será rigorosa e busca esclarecer de forma estrita todos os procedimentos, incluindo o planejamento e execução da operação, com o apoio da população por meio de canais diretos de comunicação.
A operação também gerou debate e repercussão nacional, com questionamentos sobre a letalidade da ação e a estratégia adotada. Organizações como o Instituto Sou da Paz qualificaram a “megaoperação” como uma tragédia, ressaltando que operações massivas de ocupação territorial, embora busquem combater o crime organizado, podem resultar em efeitos colaterais graves à sociedade, principalmente para populações vulneráveis. Defendem a necessidade de alternativas que respeitem direitos humanos e promovam resultados sustentáveis, em oposição à chamada “atuação bélica”.
Enquanto o governo estadual defendeu a operação como extremamente planejada e necessária para conter o avanço do narcotráfico, inclusive criticando a suposta falta de apoio federal — contestada pelo Ministério da Justiça, que informou apoio contínuo desde 2023 —, o episódio evidenciou a complexidade da segurança pública no Rio de Janeiro, a violência endêmica nas comunidades e a tensão entre as esferas estaduais e federais na coordenação do combate ao crime organizado.
A Operação Contenção entrou para a história do Rio não apenas pelo número recorde de confrontos e mortes, mas também pela nova fase intensa e controversa da luta contra as facções criminosas, com impacto direto na realidade social e política da cidade. As investigações permanecem abertas, buscando esclarecer os detalhes da ação, as responsabilidades e os desdobramentos para as comunidades afetadas.

