A megaoperação policial chamada Operação Contenção, realizada em 28 de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, resultou em pelo menos 121 mortes, tornando-se a ação policial mais letal da história do estado. A operação mobilizou cerca de 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar, com o objetivo principal de combater a facção criminosa Comando Vermelho e cumprir cerca de cem mandados de prisão. Os confrontos foram intensos, com tiroteios que deixaram 64 mortos somente no primeiro dia, incluindo civis desarmados e crianças. Outras mortes foram registradas em uma área de mata, após uma emboscada do Bope, uma tropa de elite da polícia, durante uma tentativa de fuga da facção[1][2][4].
Famílias das vítimas relataram indícios de execuções, tortura e sinais de rendição, como mãos e pernas amarrados, denunciando graves possíveis violações dos direitos humanos. Imagens feitas por moradores e divulgadas mostram corpos enfileirados na rua para reconhecimento. A população atingida é predominantemente negra e de baixa renda, o que levanta suspeitas de “desinteresse proposital” por parte das autoridades na apuração dos fatos. A ONG Human Rights Watch criticou duramente as falhas na investigação policial, apontando para a não preservação dos locais dos tiroteios e a ausência de perícia adequada, o que compromete a coleta de provas e a determinação das circunstâncias das mortes[1].
Além disso, a Human Rights Watch denunciou a dificuldade de acesso da Defensoria Pública e de observadores independentes ao Instituto Médico Legal, para onde os corpos foram levados, recomendando a presença de peritos independentes e que o Ministério Público conduza as investigações. A entidade também cobra do governador do Rio a implantação de um sistema de perícia desvinculado da Polícia Civil, com análises forenses independentes e de alta qualidade[1].
A repercussão da operação ultrapassou o âmbito local, gerando críticas nacionais e internacionais, inclusive da Organização das Nações Unidas e de entidades como a Anistia Internacional, que destacaram o risco para a vida de moradores, especialmente crianças, e a gravidade do cenário de violência registrado. A Comissão de Direitos Humanos do Senado brasileiro anunciou que investigará a operação, solicitando informações sobre o planejamento da ação e as medidas tomadas para proteger a população civil e as crianças que estavam em escolas da região durante os confrontos[6].
A operação também causou impactos severos na rotina da comunidade, com fechamento de escolas, postos de saúde e comércios, além de interdição de vias e alteração no transporte público, gerando pânico na população. Especialistas em segurança pública alertam para as consequências psicológicas, emocionais e de saúde que essas experiências traumáticas provocam na população das favelas afetadas[7].
O governo do Rio de Janeiro classificou a operação como uma demonstração de força contra o crime organizado, mas enfrentou duras críticas pela abordagem bélica e uso massivo da força, que impacta diretamente a vida cotidiana das comunidades. Organizações como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) repudiaram a ação, exigindo investigação independente, transparência e políticas de segurança que priorizem a vida e os direitos humanos, denunciando a transformação das favelas em zonas de guerra[5].
Até o momento, a polícia reportou a prisão de 81 pessoas, a apreensão de 93 fuzis e mais de meia tonelada de drogas, além de ter sofrido baixas, com a morte de quatro policiais e vários feridos durante os confrontos. A operação também evidenciou o uso de drones por traficantes para lançar granadas contra as forças policiais, configurando um cenário inédito, marcado por uma escalada da violência urbana[2][3].
Esse quadro balanceia o combate ao crime organizado com denúncias de graves violações dos direitos humanos, falhas judiciais e de investigação, além do impacto devastador que a estratégia adotada tem causado na população mais vulnerável do Rio de Janeiro.

