O mercado financeiro brasileiro segue confirmando sinais de desaceleração dos preços, mas a inflação ainda preocupa. Nesta segunda-feira, 3 de novembro, a edição mais recente do boletim Focus, elaborado pelo Banco Central a partir de pesquisas com mais de 100 instituições financeiras, trouxe pela sexta semana consecutiva uma revisão para baixo na previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025. Agora, a expectativa é que a inflação termine o ano em 4,55%, ante 4,56% da semana anterior. Ao longo do último mês, a estimativa para o IPCA recuou de 4,80% para esse nível, mas, apesar do movimento de queda, a inflação prevista ainda supera o teto da meta oficial, que é de 4,5% ao ano.
Para 2026, a projeção do mercado para o IPCA se mantém estável em 4,2%. Para 2027, a expectativa caiu de 3,82% para 3,8%, e para 2028, recuou de 3,54% para 3,5%. Esse cenário de inflação gradualmente menor, mas ainda elevada, mostra que o Brasil continua enfrentando desafios para colocar a inflação dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3% ao ano, com um intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%. O atual nível de expectativas indica, portanto, que a inflação permanece sob pressão, mesmo com avanços recentes.
No campo da política monetária, a estratégia para conter a inflação permanece clara: manter a taxa básica de juros, a Selic, no patamar elevado de 15% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou que pretende sustentar esse nível de taxa “por período bastante prolongado”, como forma de garantir que a meta da inflação seja alcançada. Nesta semana, o Copom volta a se reunir para avaliar o cenário, mas o consenso entre os analistas é de estabilidade nesses 15% ao final de 2025. Para os próximos anos, há expectativa de descida gradual: 12,25% em 2026, 10,5% em 2027 e 10% ao ano em 2028.
Essa política de juros altos reflete a preocupação do Banco Central em não perder o controle sobre a inflação, mas também traz efeitos colaterais. Juros elevados encarecem o crédito, desestimulam o consumo e podem frear o crescimento econômico, embora também sirvam para incentivar a poupança. A dinâmica dos juros das instituições financeiras, no entanto, também leva em conta fatores como risco de inadimplência e despesas operacionais, o que pode manter o crédito para o consumidor ainda mais caro do que a própria Selic.
No que diz respeito à atividade econômica, o mercado também revisou levemente suas apostas para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A estimativa para o crescimento do país em 2025 permanece em 2,16%, em linha com as projeções das últimas semanas. Para 2026, o PIB deve crescer 1,78%; para 2027, a expectativa subiu de 1,83% para 1,90%; e para 2028, a projeção segue estável em 2%. O ritmo de expansão, portanto, é modesto e reflete um ambiente de crescimento mais moderado, com setores ligados ao consumo e aos investimentos respondendo menos à atividade econômica, enquanto o mercado de trabalho segue aquecido.
O cenário também contempla a cotação do dólar. Para o final deste ano, o mercado prevê que a moeda norte-americana encerre o período cotada a R$ 5,41, abaixo dos R$ 5,45 estimados na semana anterior. Para 2026, a expectativa é de estabilidade em R$ 5,50. A trajetória do câmbio, somada à dinâmica dos preços internacionais e às condições globais, pode influenciar tanto a inflação quanto o desempenho da economia brasileira nos próximos anos.
No acumulado de 12 meses até setembro, o IPCA já soma 5,17%, segundo o IBGE, com destaque para a alta em setembro impulsionada pela conta de luz, após retração no mês anterior. O desafio, portanto, é consolidar a queda da inflação, aproximando-a da meta do Banco Central, mesmo diante de um ambiente de crescimento econômico mais lento e de incertezas externas.
O quadro atual sugere que a economia brasileira caminha para um período de desaceleração controlada da inflação, mas ainda enfrenta obstáculos para alcançar as metas oficiais nos próximos anos. O Banco Central, por sua vez, continua com a estratégia de manter juros elevados, apostando que, com o tempo, a inflação responderá ao aperto monetário, ainda que isso possa limitar o crescimento do PIB e dificultar o acesso ao crédito para empresas e consumidores. O cenário econômico, marcado por expectativas de inflação altas, juros elevados e crescimento modesto, segue exigindo cautela tanto de investidores quanto de formuladores de política econômica.

