Home / Brasil e Mundo / Ativista e viúva de Marighella, Clara Charf morre aos 100 anos

Ativista e viúva de Marighella, Clara Charf morre aos 100 anos

A ativista Clara Charf, conhecida por sua atuação política e pelos direitos das mulheres, faleceu nesta segunda-feira, 3 de novembro de 2025, aos 100 anos, de causas naturais. Ela estava hospitalizada há alguns dias e chegou a ser intubada. Fundadora e presidenta da Associação Mulheres Pela Paz, Clara deixa um legado de luta pelos direitos humanos e pela equidade de gênero. A organização a descreve como uma “guerreira” cuja vida cheia de luminosidade marcou quem a conheceu.

Clara Charf reivindicava uma trajetória pautada na resistência e na luta contra a repressão. Ainda jovem, aos 16 anos, começou a se engajar politicamente, ingressando no Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos 21 anos, onde conheceu Carlos Marighella, futuro companheiro e referência na militância contra a ditadura militar no Brasil. Casaram-se em 1947 e viveram anos clandestinos de luta. Durante o período ditatorial, Clara foi perseguida, presa e depois exilada. Passou uma década em Cuba, vivendo com identidade falsa e atuando como tradutora, até retornar ao Brasil em 1979 com a anistia.

Além de sua militância política, Clara teve uma carreira inicial como comissária de bordo na década de 1940. A perda do marido, assassinado em 1969 por agentes do regime militar, não a afastou da militância. Ao retornar do exílio, integrou o recém-fundado Partido dos Trabalhadores (PT), pelo qual chegou a concorrer a deputada federal em 1982. Militante feminista incansável, presidiu a Associação Mulheres Pela Paz, fundada em 2003 para combater a violência contra a mulher e valorizar a participação feminina na sociedade.

Em 2005, Clara coordenou no Brasil o movimento Mulheres Pela Paz ao Redor do Mundo, iniciativa que surgiu na Suíça e buscava a indicação coletiva de mil mulheres para o Prêmio Nobel da Paz daquele ano, escolhendo 52 ativistas no país. Ela trabalhou até os últimos anos, mesmo com o avanço do Alzheimer que limitou sua mobilidade e ações diretas.

Personalidades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacaram a importância de Clara para a política brasileira. Lula a definiu como “corajosa, generosa, combativa e de grande maturidade política”, ressaltando sua luta pela democracia, sua resistência durante o exílio e o exemplo que deixou para gerações futuras.

Clara Charf foi uma mulher à frente do seu tempo, cuja vida foi marcada por recomeços, perseverança e um compromisso profundo com a justiça social, a liberdade e a igualdade de gênero. Seu legado permanece vivo nas organizações feministas e políticas do Brasil que ela ajudou a construir.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)