A Operação Contenção, realizada em 28 de outubro de 2025 nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, gerou uma das ações policiais mais letais e controversas da história recente do estado. Cerca de 2.500 agentes das polícias civil e militar participaram da megaoperação para conter o avanço da facção Comando Vermelho, cumprindo quase 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão. O confronto resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais e 117 civis, e cerca de 93 pessoas foram presas em flagrante. Foram apreendidos grandes volumes de armas e drogas, mas a operação não conseguiu capturar os principais chefes da facção, como o líder conhecido como Doca.
No entanto, denúncias registradas pela Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro expuseram graves violações de direitos humanos durante a ação. Famílias relataram que pessoas inocentes foram mortas ou presas, enquanto mulheres denunciaram assédio sexual e abusos por parte de policiais. Em relatos chocantes, moradores descreveram invasões arbitrárias em suas residências, buscas sem mandados e uso da força excessiva, incluindo apontar armas contra civis indefesos. Também foram denunciados roubos de documentos, impedimento de acesso a socorro médico, uso de bombas direcionadas a casas, além de relatos de tortura e execuções extrajudiciais. Corpos encontrados apresentavam sinais de mãos amarradas, tiros na cabeça e facadas, segundo a Ouvidoria.
A operação trouxe consequências graves para o cotidiano das comunidades, com o fechamento de escolas, postos de saúde e equipamentos sociais essenciais, o que afetou especialmente crianças, adolescentes, idosos e pessoas dependentes do Sistema Único de Saúde. Sem aulas, muitos enfrentaram insegurança alimentar; sem serviços públicos, moradores tiveram dificuldades para obter cuidados médicos e enfrentaram falta de coleta de lixo e apagões nas residências.
A Ouvidoria Pública, que atua como canal de diálogo entre a população e as instituições, acompanhou os desdobramentos da operação entre os dias 29 de outubro e 1º de novembro e elaborou um relatório com sugestões para prevenir futuras violações. Entre as recomendações estão o uso efetivo de câmeras em uniformes e viaturas policiais, garantia de investigações independentes em casos de violência estatal, responsabilização das lideranças policiais pela letalidade, apoio psicossocial às famílias das vítimas, reparações rápidas e investimentos em políticas públicas que assegurem direitos fundamentais nas áreas de educação, saúde, moradia e cultura.
Em resposta, a Secretaria de Estado de Polícia Militar afirmou colaborar com todas as investigações sobre as ações da corporação, mas até o momento as demais instituições não se pronunciaram oficialmente sobre as denúncias. A operação segue sendo alvo de forte debate público e de investigações por órgãos de direitos humanos, inclusive da ONU e da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, devido à magnitude das mortes e às suspeitas de abusos contra moradores das comunidades.
A Operação Contenção evidencia os desafios e dilemas nas ações de segurança contra o crime organizado no Rio de Janeiro, sobretudo quanto ao equilíbrio entre a necessidade de combate à violência e a proteção dos direitos fundamentais da população que vive nos territórios envolvidos.

