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Brasil pode antecipar para 2040 a neutralidade de emissões de CO2

O Brasil tem capacidade de zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040, uma década antes da meta oficial do governo federal, que prevê neutralidade de carbono apenas em 2050. Essa é a principal conclusão do estudo “Brazil Net-Zero by 2040”, lançado nesta quarta-feira (5) na Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro, e coordenado pelo Instituto Amazônia 4.0. O trabalho reúne pesquisadores de instituições de renome, como USP, UnB, UFRJ e Esalq/USP, e apresenta dois caminhos possíveis para que o país alcance esse objetivo: um focado na transformação do uso da terra e outro na transição energética.

O primeiro cenário, chamado AFOLU-2040, envolve ações como a redução drástica do desmatamento, a restauração florestal em larga escala e a transformação da agricultura para modelos mais sustentáveis, como a agricultura regenerativa e sistemas agroflorestais. Segundo o estudo, esse caminho permitiria ao Brasil restaurar 18,2 milhões de hectares de áreas degradadas até 2040, o equivalente ao tamanho do estado do Ceará. Além disso, a neutralidade de gás carbônico poderia ser alcançada já em 2035, graças ao aumento da cobertura florestal e à melhoria do manejo do solo. Esse cenário demandaria apenas 1% a mais de investimento em relação ao plano atual, mas traria benefícios como a recuperação de ecossistemas, fortalecimento da agricultura familiar e criação de empregos verdes.

O segundo cenário, denominado Energia-2040, propõe uma mudança mais profunda na matriz energética brasileira, com a expansão de energias renováveis, biocombustíveis, eletrificação do transporte e adoção de tecnologias de captura e armazenamento de carbono. Nesse caso, a neutralidade de todos os gases de efeito estufa seria atingida até 2040, com a matriz energética se tornando predominantemente limpa. No entanto, esse caminho exigiria cerca de 20% a mais de investimentos, principalmente para a construção de novas infraestruturas e a substituição acelerada dos combustíveis fósseis, especialmente nos setores industrial e de transportes. Apesar dos custos mais elevados, o estudo destaca que o investimento antecipado pode trazer retornos significativos, posicionando o Brasil como líder global em energia limpa e reduzindo sua vulnerabilidade econômica frente às mudanças climáticas.

Ambos os cenários dependem de financiamento climático, políticas públicas consistentes e ações coordenadas entre os setores agropecuário, florestal e energético. A professora Mercedes Bustamante, uma das autoras do estudo, ressalta que, embora o caminho do uso da terra possa ser mais fácil de implementar, a transição energética é inevitável e fundamental para a sustentabilidade do país. Ela enfatiza que quanto mais cedo o Brasil começar a fazer esses ajustes, mais fácil e menos custoso será o processo. Segundo Bustamante, essa transformação ecológica é, na verdade, uma transição tecnológica, e o país tem a oportunidade de se tornar um modelo para outras nações, aproveitando sua riqueza natural e sua capacidade de inovação para liderar a agenda climática global.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)