Em Belém, durante a abertura da Cúpula de Líderes da COP30, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, proferiu um dos mais incisivos discursos até então realizados em conferências climáticas, centrando suas críticas nos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump, ausente do encontro. Petro foi claro em apontar a atual administração norte-americana como protagonista do que chamou de “fracasso coletivo” no combate à crise climática, atribuindo ao projeto energético de Trump, baseado na expansão da produção doméstica de petróleo e gás, uma negligência perigosa frente à urgência da mudança climática. “Nós podemos ver claramente o colapso que vai acontecer se os Estados Unidos não descarbonizarem a economia”, afirmou Petro, para quem o comportamento de Trump é sintomático da negação da ciência e do desprezo por compromissos globais.
Além da acusação direta sobre o recuo ambiental norte-americano, Petro denunciou o que considera ameaças de intervenção estadunidense à soberania de países latino-americanos, citando Colômbia, Venezuela e Cuba como exemplos de nações que, segundo ele, são alvo de ações coercitivas dos EUA sob o pretexto de combate ao narcotráfico. As relações bilaterais entre Colômbia e Estados Unidos, já tensionadas por operações militares e sanções, ganharam novo tom de acirramento no discurso.
Apesar de concentrar o fogo no governo Trump, o mandatário colombiano não poupou a Europa, que, em sua avaliação, prioriza gastos militares e conflitos geopolíticos em vez de liderar uma transição energética sustentável. “A Rússia não é o inimigo, a crise climática é o inimigo”, disse Petro, desafiando a lógica de segurança adotada por potências ocidentais após anos de investimentos bélicos crescentes. O presidente lembrou, com preocupação, que o futuro dos netos dos líderes europeus — e de toda a humanidade — está em jogo caso a resposta global continue lenta e subserviente aos interesses do setor fóssil.
Petro ressaltou ainda que, após quase três décadas de cúpulas climáticas, o balanço é negativo. “Estamos diante de um fracasso”, declarou, atribuindo a responsabilidade em grande parte ao lobby das empresas de petróleo, carvão e gás, que, segundo ele, colocam o lucro acima da vida. O presidente colombiano foi incisivo ao descrever a situação atual como um prelúdio do colapso climático, com riscos crescentes de ultrapassar pontos irreversíveis para a sobrevivência humana.
Em paralelo às críticas, Petro propôs um novo caminho, defendendo o reconhecimento da biodiversidade como solução climática, o fim progressivo dos combustíveis fósseis e uma reformulação do sistema financeiro internacional, que hoje, em seu entendimento, aumenta a dívida dos países do Sul Global e impede ações ambientais mais efetivas. O discurso de Petro ecoou como um alerta dramático: para ele, a cobiça está se chocando com a vida, e a COP30 pode ser uma das últimas oportunidades de reverter a rota rumo ao apocalipse climático.

