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Após tornado, Rio Bonito do Iguaçu começa trabalhos de reconstrução

# Tornado Deixa Rio Bonito do Iguaçu em Cenário de Devastação

A cidade de Rio Bonito do Iguaçu, com seus 14 mil habitantes, acordou diferente na manhã do sábado, 8 de novembro. O que era uma sexta-feira comum se transformou em minutos em um dos maiores desastres climáticos da história recente do Paraná. Um tornado de categoria F3, com ventos que ultrapassaram 250 quilômetros por hora, varreu aproximadamente 90% da área urbana do município, deixando um rastro de destruição difícil de descrever para quem não presenciou.

Os números são assustadores. Seis pessoas morreram e mais de 750 ficaram feridas. Mais de mil pessoas seguem desabrigadas ou desalojadas, dependendo de abrigos improvisados ou da solidariedade de conhecidos. Praticamente todos os serviços essenciais entraram em colapso: a rede elétrica foi destruída, a distribuição de água foi afetada e a infraestrutura viária sofreu danos severos.

Seu José Sabatino Filho, aos 89 anos, ainda não consegue processar tudo que viveu. Morando no centro da cidade, ele e sua esposa tiveram apenas um minuto, talvez menos, para reagir. “Foi questão de um minuto. Um minuto mais ou menos, eu só ouvi o estouro: pow! Aquele estouro. E daí começou a cair telha, começou a cair tudo. Daí minha mulher se jogou embaixo da mesa e eu me encostei na parede”, relembra. A casa dele ficou completamente destruída. Atrás de sua residência, cinco casas desabaram completamente.

A história de Seu José se repete em centenas de lares na cidade. Cleiton Wieczorkovski estava fora de Rio Bonito quando o tornado atingiu. Ao retornar, viu sua casa desaparecer. Na entrada da cidade, já tinha visto o primeiro sinal de devastação: um posto de gasolina completamente destruído. Quando chegou mais perto, visualizou aquele “redemoinho preto” que destruía tudo na sua frente. “A minha casa foi abaixo. Não tinha o que fazer”, resume com a resignação de quem viu sua vida desaparecer em segundos.

As instituições educacionais também não foram poupadas. O ginásio de um dos principais colégios estaduais da cidade veio abaixo, com sua estrutura completamente retorcida pelo impacto dos ventos. O Colégio Estadual também sofreu destruição total. Diante da situação, as provas do Enem tiveram que ser adiadas para outra data.

O governo do Paraná, reconhecendo a magnitude da tragédia, decretou estado de calamidade pública no sábado. O governador Ratinho Júnior mobilizou recursos federais e estaduais para iniciar o processo de reconstrução. Foram destinados R$ 50 milhões do Fundo Estadual de Calamidade Pública para a região, com cada família atingida recebendo até R$ 50 mil como auxílio inicial. A medida foi votada em regime de urgência pela Assembleia Legislativa no domingo.

A reconstrução das escolas também ganhou prioridade. O governo prometeu que até fevereiro de 2026, a instituição de ensino estará novamente em funcionamento, permitindo que professores e estudantes retomem suas atividades. A obra foi programada para começar na segunda-feira após a tragédia.

Nos primeiros dias após o tornado, mais de 50 bombeiros e 23 viaturas permaneceram trabalhando no local para atender às demandas emergenciais. A Paróquia Santo Antônio de Pádua, mesmo com sua estrutura metálica danificada, tornou-se um ponto de referência para doações e auxílio. Roupas, colchões, alimentos e água foram distribuídos aos necessitados, além de itens emergenciais como velas e protetores solares para os que trabalhavam na reconstrução.

A energia elétrica começou a ser restabelecida gradualmente. Até a manhã do domingo, 9 de novembro, a Companhia Paranaense de Energia já havia restabelecido 49% da rede de distribuição. Estruturas prioritárias como o centro de comando da Defesa Civil, postos de saúde e centro do idoso tiveram a energia restaurada no sábado à tarde. Mais de 200 eletricistas, técnicos e projetistas continuavam os trabalhos de reconstrução da infraestrutura.

O prefeito da cidade, Sezar Augusto Bovino, descreveu a situação com realismo. “Os três maiores mercados foram destruídos. Está tudo no chão. Mas a gente pede calma para as pessoas. Passamos pela parte difícil e agora é a reconstrução”, declarou no sábado. Essa frase resume o sentimento que prevalecia nos dias seguintes ao desastre: a urgência de deixar para trás o momento de horror e começar a reconstruir.

Cidades vizinhas como Turvo e Guarapuava também registraram tornados durante a tempestade, ambos de categoria F2, mas com danos significativamente menores. Rio Bonito do Iguaçu, porém, recebeu o impacto total dessa força da natureza. O fenômeno foi formado dentro de uma supercélula, segundo dados do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná.

Em cada canto da cidade, a sensação é de recomeço incerto. Os ventos deixaram mais do que concreto desmoronado; levaram casas, vidas, rotinas. Mas também deixaram uma comunidade unida na determinação de reconstruir Rio Bonito do Iguaçu. A jornada será longa, mas a cidade já começou seus primeiros passos rumo à recuperação.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)