# Operação Contenção: Ministério Público investiga mortes atípicas em megaoperação do Rio
O Ministério Público do Rio de Janeiro enviou nesta quarta-feira (12 de novembro) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, um relatório parcial da investigação envolvendo a morte de 121 pessoas ligadas à organização criminosa Comando Vermelho durante a Operação Contenção, realizada no dia 28 de outubro. A operação, considerada a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, mobilizou aproximadamente 2.500 agentes das forças de segurança com o objetivo de frear o avanço territorial da facção e cumprir cerca de cem mandados de prisão nos Complexos do Alemão e da Penha.
O relatório do Ministério Público revelou achados preocupantes que levantam questões sobre o desenrolar dos confrontos. Após acompanhar a perícia dos 121 corpos, os promotores identificaram “lesões atípicas” em dois cadáveres, divergindo do padrão esperado em operações dessa natureza. Um dos corpos apresentou marcas de tiros à curta distância, enquanto o segundo estava decapitado por instrumento cortante. Os demais corpos exibiam lesões internas e externas provocadas por tiros de fuzil, com a maioria das feridas localizadas na região do tórax e do abdômen, características condizentes com confrontos armados.
A análise forense confirmou que todos os mortos eram homens na faixa etária entre 20 e 30 anos. Alguns dos acusados foram encontrados usando roupas camufladas, botas operacionais, coletes com carregadores de munição e luvas táticas. Nos bolsos das roupas, os investigadores localizaram munições, celulares e “erva prensada”. A maioria dos corpos exibia múltiplas tatuagens, algumas sabidamente referentes a facções criminosas e ao extermínio de policiais, segundo o documento.
A operação de 28 de outubro deixou saldo de 121 mortos, sendo 117 suspeitos ligados ao Comando Vermelho e 4 policiais. Além disso, 113 pessoas foram presas e cerca de 100 fuzis foram apreendidos. A ação também resultou em 15 policiais feridos e três moradores atingidos por balas perdidas. Barricadas foram erguidas em diversos pontos da cidade, causando bloqueios nas vias e levando a cidade a elevar seu estágio operacional para o nível 2. Escolas e postos de saúde não abriram durante a operação.
Os próximos passos da investigação envolvem análise minuciosa das câmeras corporais dos policiais que participaram da operação e análise detalhada do local dos confrontos. O relatório foi anexado ao processo conhecido como ADPF das Favelas (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635), no qual o Supremo Tribunal Federal já determinou diversas medidas para redução da letalidade durante operações em comunidades do Rio de Janeiro.
A letalidade da operação repercutiu nacional e internacionalmente, gerando críticas da Organização das Nações Unidas, da Defensoria Pública da União, da Anistia Internacional e de mais 29 entidades. O governo do Rio considerou a operação “um sucesso”, enquanto diversos setores da sociedade, como a Central Única dos Trabalhadores, exigiram investigação independente e transparência, condenando a abordagem bélica que transformou comunidades inteiras em “zonas de guerra”.

