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Entenda a denúncia sobre ‘safári humano’ em Sarajevo durante a década de 90

Segundo dossiê de jornalista e escritor, cidadãos italianos e de outras nacionalidades pagavam a militares sérvio-bósnios para passar um fim de semana nas colinas ao redor de Sarajevo atirando em alvos durante a Guerra da Bósnia, nos anos 1990.

Uma denúncia gravíssima sobre a existência de um “safári humano” durante o cerco de Sarajevo, na Guerra da Bósnia (1993-1995), está sendo analisada pelo Ministério Público de Milão, na Itália. Segundo o dossiê do jornalista italiano Ezio Gavazzeni, cidadãos italianos, russos, americanos e de outras nacionalidades pagavam até 100 milhões de liras italianas (aproximadamente R$ 610 mil atualmente) para serem levados de uma cidade na Itália até um campo de batalha na Bósnia, para atirar em civis por diversão. As excursões, que duravam de sexta a domingo, eram organizadas de modo que os participantes retornassem às suas vidas normais na segunda-feira.

A companhia aérea iugoslava Aviogenex, com filial em Trieste (Itália), era usada para esses voos charter. Parte do dinheiro era destinada a subornos às milícias sérvio-bósnias para que estas fossem armadas e posicionadas nas colinas ao redor de Sarajevo, onde os “turistas de guerra” podiam atirar indiscriminadamente em civis, incluindo crianças, sobretudo na famosa “Alameda dos Snipers”, um corredor viário da capital bósnia.

Entre os supostos organizadores estava Jovica Stanišić, chefe da agência de inteligência da Iugoslávia e agente da CIA, condenado por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional em Haia. A denúncia inclui pelo menos três cidadãos italianos, um deles dono de uma clínica estética, e há relatos de participantes dos EUA, Canadá e Rússia.

O cerco a Sarajevo, um dos capítulos mais sangrentos da Guerra da Bósnia, durou mais de quatro anos e foi marcado por ataques de franco-atiradores contra a população civil, causando milhares de mortos e feridos. A guerra, decorrente da dissolução da antiga Iugoslávia, foi marcada por crimes de guerra, limpeza étnica e genocídio. Os acusados por esse “safári humano” poderão ser indiciados por homicídio doloso agravado por crueldade e motivo torpe, pois muitas das vítimas eram civis que tentavam sair de suas casas para buscar suprimentos essenciais.