A Polícia Federal identificou dois suspeitos de envolvimento no ataque armado contra um grupo de indígenas Guarani Kaiowá, ocorrido na madrugada de domingo (16) na Terra Indígena Iguatemipeguá I, em Iguatemi, Mato Grosso do Sul. Um indígena, Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, foi morto com um tiro na cabeça durante o confronto, e outros quatro indígenas ficaram feridos, incluindo dois adolescentes e uma mulher. O ataque, segundo relatos, foi realizado por cerca de 20 homens fortemente armados que cercaram e dispararam contra a comunidade, destruindo barracos e bens pessoais e surpreendendo os indígenas enquanto dormiam, inclusive mulheres e crianças.
Um dos suspeitos presos em flagrante é um homem de nacionalidade paraguaia que se declara indígena e tem relação com a comunidade atacada. A Polícia Federal chegou aos suspeitos após apreender duas espingardas calibre 12 e coletar evidências no local, incluindo cápsulas de munição e material biológico, que serão periciados. Ainda não se sabe se o segundo suspeito foi detido.
O ataque ocorreu em um contexto de retomada de terras por indígenas na região, que se intensificaram desde o início de novembro, com o objetivo de frear a pulverização de agrotóxicos e os impactos negativos à saúde e à segurança alimentar das comunidades. A área conhecida como Pyelito Kue, retomada pelos Guarani Kaiowá em 3 de novembro, é parte da Terra Indígena Iguatemipeguá I, sobreposta a fazendas privadas, e está em processo de demarcação desde há cerca de 40 anos.
O Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) manifestaram extremo pesar pela morte de Vicente Fernandes Vilhalva e cobraram uma investigação rigorosa e ações para combater grupos armados que atuam na região, chamados de pistoleiros ou agromilícias. A Fundação ressaltou que é inaceitável a perda de vidas indígenas na defesa de seus territórios e destacou a importância dos povos indígenas na mitigação das mudanças climáticas, contextualizando os ataques no cenário da retomada territorial e dos conflitos fundiários antigos e persistentes. Autoridades federais e estaduais, incluindo a Polícia Federal e a Força Nacional, estão mobilizadas para investigar o caso e monitorar a região, buscando garantir a segurança das comunidades indígenas.
Além da morte do indígena, há investigações em curso para apurar a possível relação de uma segunda morte, a de um vigilante de empresa de segurança privada, com o ataque. Testemunhas relataram que os atacantes tentaram levar o corpo de Vicente Fernandes, ato que foi impedido pelos demais indígenas. A violência na região tem se repetido, e episódios semelhantes já ocorreram diversas vezes nas retomadas indígenas nos últimos meses, em um contexto marcado pelo conflito pela posse e uso da terra em Mato Grosso do Sul.
