A Caravana África Diversa, que celebra a cultura, ancestralidade e história da diáspora africana, iniciou sua programação em Nantes, na França, e agora chega ao Rio de Janeiro, onde ocorrerá de 22 a 27 de novembro. Esta edição da Caravana faz parte das comemorações dos 200 anos de amizade entre Brasil e França e da Temporada Cultural Brasil-França, que teve sua primeira edição em 2005.
A escolha de Nantes e Rio para sediar a Caravana não é casual: ambas as cidades foram importantes portos na época do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas que vieram da África. Estima-se que mais de 500 mil pessoas escravizadas passaram por Nantes antes de serem levadas para as Américas. O Rio de Janeiro, por sua vez, foi o maior porto receptor dessa população africana fora do continente africano. Essa conexão histórica e a presença marcante da cultura africana nessas cidades é um dos eixos centrais do evento.
A curadora da Caravana, Daniele Ramalho, que tem ligação pessoal com as duas cidades — sua avó nasceu em Nantes e ela estudou no Liceu Franco-Brasileiro — destaca que, apesar das semelhanças, há diferenças importantes nas políticas públicas e discussões raciais entre os países. Enquanto o Brasil apresenta avanços em políticas de reparação, cotas e diversidade cultural, incluindo a presença crescente de intelectuais negros nas instituições, a França ainda enfrenta desafios maiores, principalmente na conscientização da população em relação à dívida histórica com os povos negros e africanos e na inclusão social dessas comunidades, que vivem em sua maioria nas periferias de cidades como Nantes.
A programação no Rio de Janeiro é extensa e gratuita, envolvendo rodas de conversa, oficinas, contação de histórias, apresentações musicais e cortejos culturais, reunindo artistas e grupos de países africanos como Camarões, Congo e Burkina Faso, além de representantes de estados brasileiros com forte presença da cultura africana, como Maranhão e Minas Gerais. Entre os destaques estão o solo “Masemba”, de Benjamin Abras, e o show do coletivo afrofuturista Fulu Miziki.
Além das manifestações artísticas, a Caravana também traz um discurso importante sobre racismo, desigualdades sociais e a necessidade de reparação, temas defendidos por participantes como Capitã Pedrina, guardiã do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. A Caravana enfatiza a valorização da memória, história e resistência da população negra, trazendo reflexões que vão além do Brasil, evidenciando a importância de um diálogo internacional sobre essas questões.
Representantes da cultura tradicional afro-brasileira, como a Rainha Konga, da tradição do Mozambique da Nossa Senhora das Mercês, ressaltam ainda que o contato com realidades diferentes fortalece a consciência política e a luta contra a marginalização, motivando ações que ultrapassam fronteiras nacionais.
A Caravana África Diversa se consolida assim como um espaço vital para celebrar a ancestralidade africana, reforçar a importância da cultura negra na formação das sociedades latino-americana e europeia, e promover debates urgentes sobre justiça social, reparação histórica e identidade negra em um contexto global.

