Cientistas brasileiros e internacionais manifestaram forte preocupação com o mais recente texto das negociações da COP30, realizado em Belém, sobretudo pela ausência explícita da expressão “combustíveis fósseis”, elemento central para o combate à crise climática. Para esses pesquisadores, a retirada dessa menção representa um retrocesso grave, incompatível com o estado de emergência climática que o planeta enfrenta. Eles afirmam que essa omissão constitui uma ruptura com a ciência e viola os compromissos globais já firmados, especialmente aqueles que visam limitar o aquecimento global a 1,5°C, limite crucial para evitar danos irreparáveis à biodiversidade e à humanidade.
O grupo destaca que não há futuro seguro sem mudanças estruturais, com a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e o fim do desmatamento como ações indispensáveis para conter o aquecimento do planeta. Entre os signatários da nota conjunta estão nomes como Carlos Nobre, Johan Rockström e outros especialistas de renome internacional, que reforçam que a manutenção dos combustíveis fósseis no centro do modelo energético global é incompatível com a estabilidade climática necessária para garantir condições de vida como as que conhecemos.
A ausência do tema no texto final gerou críticas severas de governos, cientistas e organizações da sociedade civil. Países como China, Índia, Arábia Saudita, Nigéria e Rússia foram apontados como os principais opositores a qualquer menção ao afastamento ou redução do uso de petróleo, gás e carvão. O rascunho final da conferência sequer apresentou metas, prazos ou planos de ação concretos para a eliminação desses combustíveis ou para o desmatamento zero.
Essa resistência política contrasta com a urgência científica que indica que o orçamento global de carbono para limitar o aquecimento a 1,5°C está quase esgotado, restando menos de cinco anos para uma redução significativa e anual das emissões. Especialistas alertam que sem a redução rápida e planejada das emissões dos combustíveis fósseis, os impactos climáticos, como ondas de calor, incêndios florestais, eventos extremos e prejuízos socioeconômicos, sobretudo para os mais vulneráveis, só tendem a se agravar.
Apesar dos esforços antecipados na presidência brasileira da COP30, que inicialmente incluiu um “mapa do caminho” para a transição energética e a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, o documento final sofreu mudanças significativas, omitindo essas referências essenciais. Essa omissão provocou reações imediatas, com apelos pela revisão do texto e críticas sobre a falta de ambição necessária para enfrentar a crise climática.
Neste contexto, a COP30 ficou dividida entre a necessidade de proteger vidas e o planeta e a preservação dos interesses da indústria de combustíveis fósseis. Os cientistas ressaltam que o evento tem a responsabilidade histórica de fazer avanços concretos, que ultrapassem as promessas e compromissos vazios, e estabeleçam diretrizes claras para a redução efetiva das emissões, a proteção das florestas e a promoção de uma transição justa para energias renováveis. Sem esses passos, alertam, a meta de limitar o aquecimento global será inatingível, e as consequências poderão ser irreversíveis para o clima, a biodiversidade e os povos mais vulneráveis do mundo.

