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Fim do desmatamento e dos combustíveis fósseis continua em pauta

# COP30 em Belém: Avanços Modestos e Compromissos Contínuos na Luta contra a Mudança Climática

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Belém entre os dias 10 e 22 de novembro, encerrou suas atividades no sábado com a aprovação do Pacote de Belém por 195 países. Apesar dos resultados alcançados, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reconheceu que o progresso, ainda que significativo, permanece modesto diante da urgência da crise climática global. Em seu discurso de encerramento, marcado por emoção e aplaudido de pé por mais de três minutos, Marina fez um balanço realista dos trabalhos, destacando tanto as conquistas quanto os desafios que ainda precisam ser superados nos próximos anos.

Entre os principais resultados da conferência, destacam-se a aprovação de um acordo de financiamento climático que aumenta recursos destinados às nações em desenvolvimento para enfrentar a crise climática. O Texto do Mutirão Global abriu caminhos importantes para o avanço da adaptação, com o compromisso dos países desenvolvidos de triplicarem o financiamento até 2035. Além disso, 122 países apresentaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas com compromissos de redução de emissões até 2035, resultado considerado fundamental para o multilateralismo climático, embora a ministra tenha reconhecido que ainda faltam comprometimentos de outras nações.

Outro ponto destacado foi a criação de indicadores globais de adaptação pela primeira vez na história das COPs, um instrumento que, embora necessite aperfeiçoamentos, representa avanço na padronização de medidas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. A conferência também reconheceu o papel fundamental de povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes na luta climática, além de priorizar cuidados especiais com crianças e garantir maior participação de mulheres nas decisões. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre foi lançado como mecanismo inovador de valorização da conservação florestal, e a Parceria Um Oceano mobilizou compromissos de 20 bilhões de dólares até 2030 para paisagens marinhas regenerativas e geração de empregos azuis.

Contudo, a conferência enfrentou um obstáculo significativo: os roadmaps, ou mapas do caminho para a transição justa dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento, não foram incorporados ao texto final das decisões. Apesar do apoio expressivo de mais de 80 países, da sociedade civil e da comunidade científica, a falta de consenso global impediu sua inclusão formal. Marina Silva, porém, reafirmou o compromisso da presidência brasileira de elaborar dois documentos próprios: um roadmap para deter e reverter o desmatamento, e outro para a transição justa, ordenada e equitativa para longe dos combustíveis fósseis, ambos ancorados na ciência e com abordagem inclusiva.

O Brasil permanecerá na presidência do processo multilateral de mudanças climáticas até o final de 2026, o que permite continuidade nos esforços iniciados em Belém. A ministra destacou a importância de criar as bases para que cada país possa, de forma autodeterminada, construir seu próprio mapa do caminho tanto para sair da dependência de combustíveis fósseis quanto para frear o desmatamento. Internamente, o Brasil já trabalha com políticas para zerar o desmatamento, adotadas desde 2003, e avança com uma matriz energética composta por 45% de energia limpa, posicionando-se como modelo em transição energética planejada e gradativa.

Marina Silva ressaltou as dificuldades contextuais que enfrentaram as negociações, particularmente em um momento de fragilidade do multilateralismo e com a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, fato que, segundo a ministra, exerce influência negativa sobre os avanços climáticos. Apesar desses desafios geopolíticos, a conferência em Belém se distinguiu pela intensa participação social, com mais de 300 mil pessoas passando pela Zona Verde e presença significativa da sociedade também na Zona Azul, área tradicionalmente sem grande participação popular em COPs anteriores. A participação de diversos setores, incluindo comunidade científica, setor empresarial e sociedade civil, foi considerada pela ministra como fundamental para a qualidade dos resultados obtidos.

Olhando para o futuro, Marina Silva enfatiza que o Brasil precisa se preparar para ser o destino dos investimentos verdes em um cenário global que não mais permitirá pressão sobre recursos hídricos, florestas e biodiversidade. A mudança de paradigma proposta pela ministra vai além da lógica tradicional de transformar natureza em dinheiro, apostando em um modelo onde recursos previamente dedicados à exploração ambiental sejam redirecionados para investimentos em energia limpa, biomassa, aumentos de produtividade agrícola por tecnologia e otimização de investimentos de forma mais equitativa. Esse repositionamento representa uma oportunidade de transformar a urgência climática em motor de construção de um novo modelo de desenvolvimento global, desafio que se coloca especialmente aos governos, empresas e setor financeiro.

A ministra concluiu que, apesar dos atrasos, contradições e disputas políticas, há uma continuidade entre a ambição da Rio-92 e os esforços presentes na COP30, oferecendo esperança de que, mesmo com progressos modestos, a comunidade internacional segue unida na persistência contra as mudanças climáticas. A próxima edição da COP será realizada na Austrália, continuando a jornada global pela sustentabilidade do planeta.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
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