Cinco policiais militares do Batalhão de Choque foram presos nesta sexta-feira, 28 de novembro de 2025, sob suspeita de crimes cometidos durante a Operação Contenção, realizada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou na morte de 122 pessoas. Além dos cinco detidos, outros cinco policiais são alvos de mandados de busca e apreensão, todos investigados pela Corregedoria-Geral da Polícia Militar após a análise das imagens captadas pelas Câmeras Operacionais Portáteis dos agentes envolvidos na ação.
A Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que as apurações estão sob responsabilidade da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), que identificou indícios de crimes cometidos durante o serviço dos policiais na operação. Em nota, o comando da corporação destacou que não compactua com desvios de conduta e criminais e que aplica rigorosas punições quando os fatos são confirmados.
Entre as irregularidades apontadas, destaca-se o furto de um fuzil por parte dos policiais, possivelmente direcionado à revenda para criminosos, conforme revelaram as imagens das câmeras corporais e conforme informado pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A Comissão tem acompanhado a investigação no local da megaoperação, coletando denúncias e preservando provas, que foram encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal no contexto da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 635), conhecida como ADPF das Favelas. Uma das principais demandas da comissão é a federalização das investigações do caso.
A Operação Contenção, conduzida por cerca de 2.500 agentes das forças de segurança, teve como objetivo conter a expansão do Comando Vermelho na Zona Norte do Rio de Janeiro, especialmente nos complexos da Penha e do Alemão. A operação, a mais letal da história do estado, resultou em intensa resistência armada dos traficantes, que instalaram barricadas, utilizaram drones e até lançaram bombas contra os policiais. No confronto, foram mortos 122 indivíduos, incluindo quatro policiais, e cerca de 81 pessoas foram presas.
Relatos da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado do Rio denunciavam violações de direitos humanos durante a operação, incluindo relatos de execuções sumárias de pessoas inocentes, prisões arbitrárias e assédio sexual contra mulheres por parte de policiais. Essas denúncias foram reunidas a partir de depoimentos de moradores e familiares afetados pela operação.
A repercussão da operação reforça o debate sobre a abordagem policial no combate ao crime organizado, diante do elevado número de mortos e acusação de condutas ilícitas envolvendo agentes públicos. A ação policial contou com o apoio da Polícia Civil, Ministério Público, e teve mobilização de helicópteros, blindados e veículos de demolição, mostrando a dimensão da empreitada para desarticular a facção criminosa.
O governo estadual, por sua vez, classificou a operação como uma demonstração de força contra o narcoterrorismo e afirmou que a operação busca restabelecer a segurança nas comunidades atingidas. Entretanto, líderes de direitos humanos, organizações sociais e a Assembleia Legislativa do Rio vêm cobrando transparência, investigação rigorosa e a responsabilização dos envolvidos, incluindo a federalização das apurações para garantir imparcialidade e justiça.
A prisão dos policiais militares investigados representa um importante passo na investigação dos excessos ocorridos durante a Operação Contenção e amplia as discussões sobre a necessidade de revisão das estratégias de segurança pública no Rio de Janeiro, com foco na garantia dos direitos humanos e proteção à população civil que sofre os impactos desses confrontos.

