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Violência e censura afetam nove em cada dez professores brasileiros

Nove em cada dez professores da educação básica e superior do ensino público e privado no Brasil já sofreram ou testemunharam perseguições, censura e violência contra profissionais da educação, revela uma pesquisa inédita do Observatório Nacional da Violência Contra Educadoras/es (ONVE), da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Ministério da Educação (MEC). Participaram do estudo 3.012 docentes de todo o país. O levantamento identificou uma forma de violência que se manifesta principalmente por tentativas de limitação da liberdade de ensinar, perseguição política e censura de conteúdo, atingindo diretamente os professores nas escolas e instituições de ensino superior.

Os dados evidenciam que 61% dos professores da educação básica e 55% dos da educação superior foram vítimas diretas dessa violência. Entre as formas relatadas, 58% sofreram tentativas de intimidação, 41% enfrentaram questionamentos agressivos sobre seus métodos pedagógicos e 35% tiveram conteúdos proibidos de forma explícita. A perseguição também resultou em consequências severas para muitos educadores, incluindo demissões (6%), suspensões (2%), mudanças forçadas de local de trabalho (12%) e remoção de cargos (11%). A violência verbal, com xingamentos, foi apontada por 25% e a agressão física por 10% dos respondentes.

O coordenador do estudo, professor Fernando Penna, apontou que a censura na educação é um fenômeno disseminado por todo o Brasil e em todas as etapas de ensino, envolvendo professores e demais profissionais educativos. Ele destacou que tal violência aumentou a partir de 2010, com picos nos anos de intensas tensões políticas, como 2016, 2018 e 2022, refletindo a influência da polarização política no ambiente escolar. Segundo Penna, a censura é exercida tanto por instituições escolares quanto por agentes externos, incluindo figuras públicas, configurando uma forma de violência exercida em função do ofício dos educadores.

O levantamento expõe a enraizada problemática de perseguição política e censura a temas considerados obrigatórios nos currículos, como política, gênero e religião, áreas que costumam ser alvo de controvérsias e tentativas de restrição. A pesquisa também aponta o impacto significativo dessas situações na vida profissional e pessoal dos professores, com 33% relatando impacto extremamente negativo e 39% relatando impacto considerável, o que tem contribuído para o chamado “apagão dos professores”, com muitos deixando a profissão devido a esse clima de hostilidade.

Esses dados refletem um contexto mais amplo de aumento da violência nas escolas brasileiras, que se acentuou na última década, acompanhado por crescimento das agressões físicas, verbais e até ameaças à integridade dos profissionais da educação. A exposição a ameaças, censura e perseguição política compromete a educação democrática, ressalta o estudo, apontando para a necessidade de reconhecimento dessa violência como um grave problema estrutural que ameaça o patrimônio educacional e o direito à liberdade de ensinar no país.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)