O compartilhamento de notícias de política no WhatsApp tem se tornado menos frequente em grupos de família, amigos e trabalho, e mais da metade dos usuários relata medo de emitir opinião política nesses espaços, segundo o estudo “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, divulgado pelo InternetLab e pela Rede Conhecimento Social.[1]
A pesquisa, feita online com 3.113 pessoas com 16 anos ou mais entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 2024, mostra que mais da metade dos usuários está em grupos de família (54%) e de amigos (53%), e que 38% participam de grupos de trabalho.[1] Ao comparar o conteúdo dos grupos entre 2021 e 2024, os pesquisadores identificaram queda na frequência de mensagens sobre política, políticos e governo: o grupo de família indicado como o que mais recebia esse tipo de notícias caiu de 34% em 2021 para 27% em 2024; nos grupos de amigos, a porcentagem caiu de 38% para 24%; e nos grupos de trabalho, de 16% para 11%.[1]
O levantamento também revela uma sensação generalizada de receio em se posicionar: 56% dos entrevistados disseram temer emitir opinião sobre política “porque o ambiente está muito agressivo”, e essa percepção foi relatada por 63% dos que se consideram de esquerda, 66% dos de centro e 61% dos de direita.[1] Em resposta a esse ambiente, 52% afirmam que se policiam mais sobre o que falam nos grupos, 50% evitam falar de política no grupo da família para fugir de brigas, e 65% evitam compartilhar mensagens que possam atacar os valores de outras pessoas.[1] Como consequência, 29% dos respondentes já deixaram grupos onde não se sentiam à vontade para expressar opinião política.[1]
Apesar da autocensura predominante, o estudo mostra que uma parcela menor adota comportamento contrário: 12% compartilham algo considerado importante mesmo que possa causar desconforto, e 18% dizem que, quando acreditam numa ideia, compartilham-na mesmo que pareça ofensiva.[1] Entre os 44% que se consideram seguros para falar de política no WhatsApp, estratégias citadas incluem usar humor para conversar sobre política (30%), falar no privado em vez de em grupos (34%) e participar apenas de grupos com pessoas que pensam de forma semelhante (29%).[1]
Os depoimentos anônimos incluídos no estudo descrevem uma autorregulação crescente: usuários relatam evitar debates para não misturar relações pessoais com política, ignorar publicações polêmicas ou até sair de grupos conflituosos.[1] As autoras do estudo destacam que o uso do WhatsApp está “arraigado” ao cotidiano e que, desde 2020, observa-se um desenvolvimento de normas éticas próprias para lidar com comunicação política no aplicativo, com as pessoas adotando práticas de autocontenção e amadurecimento nas interações nos grupos.[1]
O estudo foi apoiado financeiramente pelo WhatsApp, e o InternetLab afirmou que a empresa não teve ingerência sobre a pesquisa.[1]

