O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou profunda preocupação com a escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela, afirmando que pretende conversar novamente com Donald Trump até antes do Natal para buscar uma solução diplomática que evite uma invasão militar na região. Durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira, ele destacou a importância de um acordo que impeça um confronto armado na América do Sul, recordando que o Brasil compartilha milhares de quilômetros de fronteira com o país vizinho.
Lula revelou ter tido contatos recentes tanto com o presidente venezuelano Nicolás Maduro quanto com Trump. Na semana passada, ele disse a Maduro que o Brasil está disposto a ajudar se o líder chavista indicar o que espera do país, e transmitiu a mesma disposição ao mandatário norte-americano, propondo mediação para diálogos com outros envolvidos. “Eu disse para o Trump da preocupação com a Venezuela, que as coisas não se resolveriam dando tiro. Nunca ninguém disse concretamente por que é preciso fazer essa guerra”, relatou, questionando os interesses ocultos por trás da movimentação militar americana, como possível apetite por petróleo, minerais críticos ou terras raras venezuelanas.
O presidente brasileiro expressou ceticismo sobre as alegações oficiais de Washington, como o combate ao narcotráfico, que justificam o cerco de tropas dos EUA no Mar do Caribe, próximo à fronteira venezuelana. “Eu fico sempre preocupado com o que está por trás. Porque não pode ser apenas a questão de derrubar o Maduro. Quais são os interesses outros que a gente tem e ainda não sabe?”, indagou, defendendo que negociações pacíficas são viáveis e mais eficazes que o uso da força. Ele recordou experiências passadas, como tentativas de reconciliação entre Hugo Chávez e George W. Bush, ironizando que as relações comerciais, como a importação de petróleo, revelavam contradições nas hostilidades declaradas.
Em paralelo, Lula abordou as tarifas de 40% impostas pelos EUA sobre 22% das exportações brasileiras, mesmo após exclusões recentes de centenas de produtos pela Casa Branca. Ele reconheceu o direito soberano de qualquer nação taxar importações para proteger seu desenvolvimento, mas criticou os motivos originais da medida, que, segundo ele, Trump já admitiu não serem os verdadeiros. “Desde o momento que o presidente Trump fez a taxação, eu sempre defendi que é direito soberano de qualquer país taxar produtos do exterior que entram no seu país”, afirmou, garantindo que o Brasil segue negociando ativamente.
Sob coordenação do vice-presidente Geraldo Alckmin e dos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Mauro Vieira, das Relações Exteriores, o governo brasileiro mantém a mesa de diálogo aberta. Lula enfatizou seu envolvimento pessoal, enviando mensagens a Trump a cada 15 dias para cobrar avanços. “Quem engorda o porco é o olho do dono. Se eu fingir que eu esqueço, eu que tenho interesse, ele acha que está tudo resolvido e não, eu tenho que cobrar”, assegurou, demonstrando determinação em reverter as pendências tarifárias.

