O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, durante o discurso de abertura da Cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, que a assinatura do acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia, prevista para este sábado, foi adiada para janeiro. O encontro, que marca o fim da presidência brasileira do Mercosul e a passagem do comando ao Paraguai, reuniu líderes regionais em um momento de expectativa frustrada pela indecisão europeia.
Lula explicou que líderes da Comissão Europeia, como Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, António Costa, pediram mais tempo para discutir medidas adicionais de proteção agrícola, apesar de terem insistido na realização da cúpula neste dia. Ele recebeu uma carta dos dois na véspera, manifestando otimismo para a aprovação em janeiro. O presidente brasileiro enfatizou que o atraso decorre de questões internas na UE, especialmente relacionadas à distribuição de verbas agrícolas, e não de oposição direta ao acordo com o Mercosul.
Em conversa telefônica com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, Lula ouviu a garantia de que o país estaria pronto para assinar no início de janeiro. Ele minimizou a resistência francesa, que teme perda de competitividade no setor agrícola, afirmando que von der Leyen e Costa asseguraram que a França, sozinha, não bloquearia o processo. “Se ela estiver pronta para assinar e faltar só a França, não haverá possibilidade de a França, sozinha, não permitir o acordo”, declarou Lula, apostando na assinatura no primeiro mês da presidência paraguaia, sob o comando de Santiago Peña.
Negociado ao longo de 26 anos, o pacto une mercados com 722 milhões de habitantes e um PIB combinado de US$ 22 trilhões, prometendo ser um dos maiores tratados comerciais do mundo. Os termos gerais foram anunciados em 2019, e no ano passado, em Montevidéu, avançou-se para a elaboração dos textos finais. Apesar do revés, Lula reforçou o compromisso do Mercosul em diversificar parcerias, citando avanços com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), de PIB próximo a um trilhão e meio de dólares, além de discussões com Índia, Emirados Árabes Unidos, Canadá, Japão e Vietnã.
O presidente também cobrou maior integração regional na América Latina, onde o comércio intrarregional representa apenas 15% do fluxo total, contra 60% na Ásia e Europa. Ele defendeu negociações rápidas com Panamá, atualizações de acordos com Colômbia e Equador, e a inclusão de setores como sucroalcooleiro e automotivo nas regras do bloco para elevar esse índice. A cúpula, precedida por reuniões ministeriais na sexta-feira, reforça a estratégia do Mercosul de ampliar sua inserção global em meio a um cenário competitivo.

