A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, atribuiu nesta segunda-feira o aumento da dívida pública brasileira à taxa básica de juros elevada, a Selic, e não às despesas do governo. Em publicação em rede social, a ministra afirmou que a Selic, atualmente em 15% ao ano—o maior patamar desde 2006, quando foi fixada em 15,25%—é a maior responsável pelo crescimento do endividamento do país.
Gleisi criticou o que chamou de “juros estratosféricos”, argumentando que esses patamares encarecem o crédito e limitam o crescimento econômico. A ministra ressaltou que os juros estão 10% mais altos do que a inflação, enquanto a cobertura econômica aponta um crescimento de apenas 5% acima da inflação nas despesas governamentais. Segundo ela, essa diferença é fundamental para compreender o problema do endividamento público.
A ministra enfatizou que o custo do serviço da dívida compromete diretamente o orçamento federal. Ao absorver recursos públicos através do pagamento de juros, esses gastos prejudicam a prestação de serviços públicos, os programas sociais e os investimentos do governo para o desenvolvimento. O efeito cascata dessa política monetária, na visão de Gleisi, “suga” recursos que poderiam ser destinados a áreas essenciais do Estado.
As críticas da ministra ocorrem após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter, pela quarta vez consecutiva, a taxa básica de juros em 15% ao ano. A decisão foi unânime entre os membros do comitê, que sinalizaram que o patamar atual de juros deve se manter por um “período bastante prolongado”. O Copom enfatizou que o cenário econômico está marcado por grande incerteza, o que justifica a cautela na política monetária.
Apesar da redução nas expectativas de inflação, o Banco Central manteve a posição de manter os juros elevados. As projeções mais recentes indicam que a inflação para 2025 deve ficar em 4,33%, dentro do intervalo da meta contínua estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para 2026, 2027 e 2028, as estimativas de inflação são de 4,06%, 3,8% e 3,5%, respectivamente.
De acordo com dados do Tesouro Nacional, a dívida pública federal aumentou 1,62% e chegou a R$ 8,253 trilhões em outubro. A dívida pública líquida representa 64,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Com a aprovação do Projeto de Lei Orçamentária para 2026, 28% das despesas previstas serão destinadas exclusivamente ao pagamento de juros da dívida pública, equivalente a R$ 1,82 trilhão de um orçamento total de R$ 6,5 trilhões.
A Selic funciona como o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A inflação oficial fechou novembro em 0,18%, acumulando 4,46% em 12 meses. Com o resultado, o indicador voltou a ficar dentro do teto da meta contínua de inflação, reforçando o argumento de Gleisi sobre a desproporcionalidade entre o nível de juros mantido e o comportamento dos preços na economia.

