Por Rodrigo Augusto Prando*
A robusta vitória de Donald Trump (Partido Republicado) em relação à Kamala Harris (Partido Democrata) repercutiu, como não poderia deixar de ser, em todo o mundo e, no Brasil, não seria diferente.
Pululam análises sobre o impacto da vitória do republicano no que tange à guerra entre Ucrânia e Rússia, dos conflitos no Oriente Médio (Israel, grupos terroristas e outros países árabes), das relações comerciais com a China e os demais países, já que Trump sempre asseverou ter uma visão protecionista e, com isso, aumentou os impostos para a entrada de mercadorias nos EUA, impactando negativamente a economia de outros países. Destarte essas questões, muitos questionam o impacto do novo mandato de Trump para a democracia estadunidense e, não menos importante, para o cenário global.
Os norte-americanos assistirão, em breve, à posse do primeiro presidente eleito com uma condenação criminal (e que ainda responde por outros três processos). As ações políticas de Trump levaram-no ao encontro da Justiça nos seguintes casos: 1) apropriar-se de documentos sigilosos da Casa Branca; 2) tentar interferir no resultado das eleições em 2020 (quando foi derrotado por Joe Biden); e 3) das relações e incentivo à invasão do Congresso americano em janeiro de 2021.
Nos três casos, são acusações graves e que demonstram o desrespeito de Trump em relação às regras, às instituições e à democracia. Rememore-se, também, que, durante a pandemia, na condição de presidente, Trump alinhou-se ao negacionismo tão comum a outros líderes mundiais e, na ocasião, declarou até que desinfetante injetado nos doentes poderia trazer a cura, eliminando o coronavírus. Ocioso trazer à tona que muitos aplicaram desinfetante em seus corpos seguindo a peculiar e equivocada lógica do presidente.
No Brasil, quais seriam os desdobramentos da volta de Trump? Obviamente, é cedo para projetar os impactos econômicos ou mesmo na agenda ambiental e da sustentabilidade; todavia, já se pode vislumbrar elementos presentes no discurso político interno. Há muito se diz que, nas relações internacionais, presidentes não devem ter amizade com outros presidentes, mas defender os interesses de seus países e, mais ainda, evitar declarações públicas de apoio a algum candidato durante as contendas eleitorais. Bolsonaro, quando presidente, apoiou efusivamente Trump e, quando este foi derrotado, foi um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar Biden pela vitória. Nos dias que correm, Lula também escolheu o lado e externou sua simpatia por Kamala Harris.
Independentemente de questões mais pessoais dos líderes políticos e suas preferências ideológicas, o fato é que o retorno de Trump – tido como triunfal por muitos – é um reforço ao discurso e condutas de políticos localizados no campo do populismo da extrema-direita, mormente, no campo digital. Não à toa, figura ímpar nesse processo é Elon Musk que, além do apoio a Trump, é cotado para assumir alguma posição na arquitetura do novo governo.
Bolsonaristas, por aqui, já comemoram e aumentam a pressão para que a inelegibilidade imposta ao ex-presidente seja derrubada por um ato do Poder Legislativo, na mesma linha de um projeto de anistia aos presos pelos ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília. Ademais, o retorno de Trump reforça, lá e aqui, o discurso messiânico e salvacionista, tão caro aos populistas e, não raro, conjugado à retórica de que são – Trump e Bolsonaro – perseguidos politicamente pelo “sistema”.
Há quem diga que, mal tenha acabado a eleição municipal, o primeiro turno de 2026 já começou!
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