A implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro foi o estopim para a expansão da facção criminosa Comando Vermelho (CV) para outros estados brasileiros. Segundo o coordenador Geral de Análise de Conjuntura Nacional da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Pedro de Souza Mesquita, a chegada das UPPs forçou os líderes do CV a deixarem o Rio de Janeiro, o que desencadeou uma ampliação geográfica da organização pelo país a partir de 2013, atingindo seu auge em 2024. Esse movimento ocorreu especialmente nas regiões Norte e outros estados do Brasil, como Tocantins, Pará, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, com exceção apenas de Roraima e Amapá, onde o CV ainda não é predominante.
A expansão do Comando Vermelho foi facilitada pela sua estratégia de se aliar a grupos criminosos locais que resistiam à influência do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização rival originária de São Paulo. O CV passou a oferecer a esses grupos uma rede descentralizada de logística para o acesso a armas e drogas, o que contribuiu para sua proliferação nacional.
Enquanto o Comando Vermelho ampliava seu domínio interno, o PCC expandiu suas atividades para o exterior, marcando sua presença em 28 países com mais de dois mil membros, um processo iniciado em 2016 e consolidado a partir de um aumento significativo em 2018, quando convocou integrantes que falassem espanhol para expandir sua atuação internacionalmente.
O governo do Rio de Janeiro, embora reconheça que a expansão do Comando Vermelho teve relação com as UPPs, ressalta que essa nacionalização da facção não pode ser atribuída exclusivamente a elas. A Secretaria Estadual de Segurança Pública afirmou que o projeto das UPPs focou em ocupação territorial, mas careceu do acompanhamento de políticas públicas integradas, o que comprometeu sua sustentabilidade a longo prazo. Além disso, destacou que o deslocamento dos criminosos para outros municípios e estados foi uma consequência da pressão policial nas áreas ocupadas, contribuindo assim para a disseminação do CV.
Além dessas duas facções, o Terceiro Comando Puro (TCP), também de origem carioca, vem ganhando espaço em estados como Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. O TCP disputa territórios com o CV, oferecendo estruturas similares de fornecimento de armas, drogas e abrigo em comunidades, replicando métodos que antes eram exclusivos do Comando Vermelho.
Essa proliferação das facções criminais, especialmente do CV e do TCP, acende um sinal de alerta nacional por espalhar pelo Brasil a “lógica de confrontos violentos típica do Rio de Janeiro”, o que exige uma integração e cooperação efetiva entre os governos federal, estadual e municipal para o combate ao narcotráfico e à criminalidade organizada.
A complexidade dessa questão é reforçada pela diversidade regional do crime organizado no Brasil, onde o Rio Grande do Sul, por exemplo, mantém um ecossistema criminal próprio que dificulta a penetração do CV e do PCC, e as forças de segurança locais desempenham papel estratégico no controle dessas organizações criminosas. Essa realidade evidencia que o fenômeno do crime organizado é multifacetado, envolvendo diferentes dinâmicas conforme as características socioculturais e geopolíticas de cada região do país.

