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Acordo no Japão deixa Takaichi perto de se tornar primeira premiê

## Reportagem

O Japão está à beira de um momento histórico: pela primeira vez, uma mulher deve ocupar o cargo de primeira-ministra. Sanae Takaichi, política conservadora do Partido Liberal Democrata (LDP), conseguiu firmar uma aliança com o Partido da Inovação (Ishin), de oposição de direita, para assegurar sua candidatura ao posto máximo do governo. O acordo de coalizão foi assinado nesta segunda-feira, pelo qual o Ishin, o segundo maior partido de oposição do país, confirmou apoio fundamental para que Takaichi chegue ao poder.

Com 231 assentos na Câmara Baixa, a coalizão fica a apenas dois de uma maioria absoluta, mas a expectativa é que isso seja suficiente para garantir a vitória de Takaichi na votação do Legislativo desta terça-feira. “Estou ansiosa para trabalharmos juntos, em um esforço para fortalecer a economia do Japão e transformar o país”, afirmou a futura premiê, na presença do governador de Osaka, Hirofumi Yoshimura, e do chefe do Parlamento, Fumitake Fujita. O pacto prevê prazos e políticas específicas, incluindo um corte de 10% no número de parlamentares e a suspensão, por dois anos, do imposto sobre o consumo de alimentos.

Os investidores reagiram com entusiasmo ao anúncio da coalizão, apostando em maior gasto público e flexibilização monetária sob Takaichi. O iene sofreu desvalorização, enquanto o índice Nikkei registrou um salto de 3,4%, sinalizando confiança num eventual aumento da atividade econômica. “As expectativas em relação às políticas econômicas de Takaichi, que incluem expansão fiscal e flexibilização monetária, parecem estar facilitando o aumento dos preços das ações e o enfraquecimento do iene”, avaliou Fumika Shimizu, estrategista da Nomura Securities. No entanto, analistas apontam que o Ishin, tradicionalmente favorável a cortes orçamentários, pode limitar parte das ambições de gastos do novo governo.

O caminho até aqui não foi simples. Takaichi ascendeu à liderança do LDP após a renúncia do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, pressionado por derrotas eleitorais. A nomeação de Takaichi, porém, desagradou o Komeito, aliado de 26 anos do LDP, causando a ruptura da coalizão histórica. O rompimento abriu espaço para manobras políticas, com tentativas de outros partidos de oposição, incluindo o Ishin, de inviabilizar a formação de um governo liderado pelo LDP. O acordo com o Ishin, todavia, selou os últimos impasses, eliminando a ameaça de perda do poder após mais de uma década de governo do partido.

Com a nomeação praticamente garantida, Takaichi encara desafios imediatos. Ela terá de conseguir apoio de outros grupos parlamentares para aprovar medidas, como orçamentos suplementares, além de precisar lidar com os efeitos da inflação, a estagnação salarial e a expectativa de famílias por respostas rápidas. Suas diretrizes defendem maior gasto público, isenções fiscais para proteger consumidores e críticas à alta dos juros pelo Banco do Japão. A própria trajetória de Takaichi, porém, é marcada por debates acirrados sobre seu alinhamento socialmente conservador, que já renderam polêmicas no passado.

Se confirmada pelo Parlamento, Sanae Takaichi não só assumirá o posto de primeira-ministra como entrará para a história do Japão, quebrando um recorde de quase 70 anos de governos masculinos. O impacto simbólico da decisão pode abrir portas para outras mulheres na política japonesa, mesmo com agendas conservadoras. O próximo capítulo, já a partir desta terça-feira, será escrito sob a atenção de milhões de japoneses, de investidores e de observadores internacionais, atentos ao rumo de uma das maiores economias do planeta.

*(Reportagem elaborada a partir de informações oficiais, declarações parlamentares e análises econômicas. Apoio de Mariko Katsumura, Satoshi Sugiyama, Makiko Yamazaki e Anton Bridges)*

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)