No povoado de Tala, a cerca de 100 km de Montevidéu, no interior do Uruguai, as décadas de cultivo intensivo da beterraba açucareira deixaram um legado de destruição ambiental e danos à saúde dos agricultores locais. O cultivo da beterraba, planta originária da Europa e não adaptada ao clima uruguaio, requereu o uso massivo de agrotóxicos para combater pragas e doenças, impondo um modelo agrícola baseado em insumos químicos pesados.
Esse modelo deixou profundas marcas no solo, que hoje apresenta erosão severa, perda da camada fértil e, especialmente, uma incapacidade praticamente total de reter água da chuva. O solo, antes poroso e capaz de funcionar como uma esponja natural, tornou-se compactado e estéril, obrigando a agricultura local a depender exclusivamente da irrigação artificial para se manter. Quando ocorrem chuvas fortes, a água simplesmente carrega o solo fértil para os rios, provocando ainda mais degradação ambiental e dificultando a produção agrícola.
Além do impacto ao meio ambiente, o uso intenso e prolongado de agrotóxicos provocou graves consequências para a saúde pública da região. Agricultores que cresceram expostos a esses químicos desde a infância, muitas vezes sem qualquer proteção, enfrentam hoje altas incidências de cânceres diversos — como de pele, intestino e esôfago — dificuldades respiratórias e problemas dermatológicos causados pelo contato direto com os venenos. A propaganda enganosa que dizia que alguns desses produtos podiam ser manuseados e até ingeridos sem riscos contribuiu para a desinformação e o uso irresponsável, afetando também familiares e comunidades inteiras. Além disso, a contaminação da água subterrânea é generalizada: um estudo público realizado em escolas rurais revelou que não houve sequer uma amostra de água subterrânea sem traços de agrotóxicos.
O contexto tem sua responsabilidade atribuída a empresas que, apesar de manterem nomes uruguaios tradicionais, são controladas por multinacionais, que lucram à custa da degradação ambiental e da saúde do povo local. Estas empresas seguem atuando com pouca transparência quanto aos impactos causados.
Os impactos dos agrotóxicos também se relacionam diretamente à emergência climática, pois a fabricação desses químicos consome enormes quantidades de energia, grande parte derivada de combustíveis fósseis, alimentando o ciclo de emissões de gases de efeito estufa. A produção, aplicação e transporte dessas substâncias dependem de combustíveis fósseis, agravando o impacto ambiental e o balanço energético negativo da agricultura baseada nesses insumos.
Esse cenário foi divulgado durante a Cúpula dos Povos realizada em Belém, contraponto à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em um esforço para denunciar os danos ambientais, sociais e sanitários provocados pelo modelo agroquímico, e para defender a valorização das sementes nativas e a agricultura familiar, que buscam alternativas sustentáveis para reverter essa triste realidade.

