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Anistia Internacional classifica como desastrosa operação no Rio

A Operação Contenção, deflagrada nesta terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, tornou-se a ação policial mais letal da história do estado, resultando na morte de 64 pessoas, incluindo quatro policiais, e na prisão de 81 suspeitos. O governo estadual mobilizou cerca de 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar, com um vasto aparato tecnológico e logístico, incluindo drones, helicópteros, veículos blindados e de demolição, para combater o avanço do Comando Vermelho e prender lideranças da facção criminosa. A operação foi planejada ao longo de mais de um ano com 60 dias de planejamento operacional, cumprindo centenas de mandados judiciais.

Durante o dia, a cidade viveu cenas de guerra, com bloqueios, incêndios e explosivos lançados por drones por parte dos criminosos, além da suspensão das aulas em 48 escolas da região e interdições em vias importantes. O saldo da ação teve um impacto profundo na população local, especialmente nas comunidades periféricas. O governador Cláudio Castro classificou a operação como um sucesso e um duro golpe contra o crime organizado, destacando o planejamento e a coordenação da ação.

Contudo, a operação gerou forte reação de entidades de direitos humanos. A diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, a médica Jurema Werneck, classificou a ação como “desastrosa” e denunciou uma tentativa de mascarar a letalidade como êxito. Ela criticou a fala do governador que, segundo Werneck, estimula violação da lei ao associar assassinato a sucesso, denunciando a operação como ilegal e desrespeitosa aos direitos humanos, à Constituição e à legislação brasileira. A Anistia Internacional está coletando relatos sobre a operação e promete atuar para garantir reparação judicial e responsabilização das autoridades envolvidas.

Organizações como o Instituto Sou da Paz também condenaram a ação, apontando que operações de ocupação massiva no território dominado pelo crime organizado não produzem resultados sustentáveis, mas sim aumentam o risco à população, sobretudo a negra e de baixa renda, vivendo nas favelas. O instituto ressaltou que a estratégia do Estado precisa respeitar os direitos fundamentais e proteger a vida, criticando a política de segurança pública atual como uma política de morte, incompatível com o Estado Democrático de Direito.

O episódio expõe um dilema complexo entre o combate à violência e o respeito aos direitos humanos, colocando em evidência a fragilidade da coordenação entre os poderes estaduais e federais e o papel das instituições no controle da violência e na garantia da legalidade das ações policiais. Enquanto o governo defende a operação como um marco no combate ao narcoterrorismo, a reação das instituições e da sociedade civil evidencia preocupações graves quanto ao uso da força, à letalidade e ao impacto social da chamada “guerra às facções” no Rio de Janeiro.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)