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Argentinos vão às urnas para renovar Câmara e Senado

Os argentinos acordaram cedo neste domingo, 26 de outubro, para participar de uma eleição legislativa que promete redefinir o futuro do governo de Javier Milei. Desde as 8h, centros eleitorais de todo o país recebem cerca de 35 milhões de cidadãos, que escolherão 127 deputados federais e 24 senadores. As urnas se encerram às 18h, e a expectativa é que os primeiros resultados oficiais sejam divulgados por volta das 23h, alimentando debates acalorados em meio à tensão política que marca o país.

A renovação de metade da Câmara dos Deputados e de um terço do Senado coloca em xeque a capacidade do presidente Milei de avançar com seu projeto econômico. Suas medidas de forte ajuste fiscal conseguiram reduzir a inflação anual de 25% para cerca de 2% desde que assumiu o governo, gerando um superávit fiscal inédito em mais de uma década. No entanto, a vitória econômica trouxe também custo social: a renda real caiu para muitos argentinos, servidores e aposentados perderam poder de compra, e, mesmo com uma pequena redução, a pobreza ainda atinge 31,6% da população, segundo dados oficiais do primeiro semestre de 2025.

O pleito deste domingo é visto como um verdadeiro referendo sobre o “ultraliberalismo” pregado por Milei. Para o presidente, as eleições são uma chance de ampliar sua base parlamentar e conquistar o apoio necessário para aprovar reformas estruturais — como mudanças nas leis trabalhistas, previdenciárias e tributárias — que enfrentam forte oposição no Congresso. Atualmente, o partido de Milei, La Libertad Avanza, tem apenas 37 deputados e seis senadores, números insuficientes para aprovar medidas de impacto por conta própria.

As províncias mais disputadas são aquelas onde há maior número de vagas em jogo, especialmente Buenos Aires. O resultado nas urnas pode transformar a governabilidade do país: se Milei conseguir ampliar sua base, terá força para implementar as reformas prometidas até o final de seu mandato; caso contrário, pode enfrentar um Legislativo hostil e um cenário de impasse político.

O perfil da disputa é marcado pelo embate entre o governo e a oposição peronista, que ainda detém a maior minoria parlamentar. Especialistas políticos consideram que uma votação superior a 35% para o partido governista seria sinal de continuidade do projeto de Milei, enquanto um resultado acima de 40% representaria um fortalecimento inesperado e uma carta branca para novas reformas. Por outro lado, um desempenho abaixo desse patamar poderia sinalizar desgaste e abrir espaço para retrocessos nas políticas de austeridade.

O cenário argentino chama a atenção internacional. O governo dos EUA, por exemplo, ofereceu um pacote de ajuda financeira bilionário, mas condicionou o apoio à vitória de Milei nas urnas. O encontro recente entre o presidente argentino e Donald Trump foi interpretado como um sinal de que o conservadorismo americano aposta no sucesso do projeto ultraliberal em Buenos Aires.

Neste domingo, o equilíbrio de forças no Congresso argentino é colocado à prova. O resultado não somente definirá o destino das políticas econômicas implementadas por Milei, mas também servirá de termômetro para o futuro do país, um dos mais atribulados da América Latina, acostumado a crises políticas, sociais e econômicas. À medida que a noite cai sobre Buenos Aires e as primeiras urnas são abertas, resta saber se os argentinos endossam o caminho duro da austeridade em troca da promessa de estabilidade ou se preferem mudar o tom de sua história recente.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)