A operação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, na última terça-feira, 28 de outubro de 2025, resultou na maior letalidade já registrada em ações desse tipo no estado. Segundo dados oficiais, pelo menos 64 mortos foram confirmados inicialmente, incluindo 4 policiais; no entanto, moradores encontraram e retiraram dezenas de corpos em áreas de mata próximas, elevando o total para mais de 130 mortos, conforme relatos e apurações preliminares. A ação contou com o efetivo de 2,5 mil policiais civis e militares e teve como objetivo prender líderes criminosos e conter a expansão de facções, especialmente do Comando Vermelho.
O impacto da operação foi devastador para as comunidades locais. Ativistas, moradores e especialistas classificaram o episódio como uma “chacina” e um “massacre”, criticando o uso intensivo da força e a exposição da população a tiroteios generalizados. Um dos primeiros a noticiar o achado dos corpos foi Raull Santiago, empreendedor nascido no Morro do Alemão, que lamentou a brutalidade da ação e enfatizou a desigualdade social que se manifesta de forma violenta nas favelas. Ele destacou que, apesar de estar acostumado à violência, é impossível se acostumar ao sofrimento das famílias que perderam seus filhos. O choro das mães diante dos corpos, muitas vezes retirados por moradores das matas, marcou o ambiente, revelando o drama humano por trás dos números.
O governo do estado, liderado pelo governador Cláudio Castro, defendeu a operação classificando-a como um sucesso, argumentando que as mortes aconteceram em decorrência de reação violenta dos criminosos contra os policiais. A posição oficial é de que as únicas vítimas da ação foram os quatro agentes mortos, e que as demais fatalidades ocorreram em legítima defesa das forças de segurança. O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, minimizou o chamado “dano colateral”, afirmando que apenas quatro pessoas inocentes morreram, apesar dos relatos contrários de moradores e ativistas. Durante coletiva, o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, informou que 113 pessoas foram presas e que será realizada perícia para determinar conexão entre os corpos encontrados na mata e a operação.
Apesar da justificativa oficial, a operação gerou ampla repercussão negativa. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) manifestou extrema preocupação com a escalada da violência e informou que vai solicitar explicações ao Ministério Público e às polícias. Organizações de direitos humanos nacionais e internacionais também criticaram a ação, ressaltando o uso desproporcional da força e a militarização das favelas. O secretário-geral da ONU expressou preocupação com o alto número de mortos e solicitou investigações rigorosas sobre as circunstâncias da operação.
As consequências da megaoperação foram sentidas na rotina da cidade: escolas foram fechadas, vias bloqueadas, serviços interrompidos e a população da Zona Norte viveu momentos de pânico devido ao intenso tiroteio. O episódio, além de trazer à tona a crise da segurança pública no Rio de Janeiro, reacende o debate sobre a eficácia e a ética das ações policiais em territórios marcados pela desigualdade social e pela violência institucional. A ação, que mobilizou milhares de agentes em uma das maiores operações policiais da história estadual, deixa marcas profundas nas comunidades envolvidas e acende alertas sobre o caminho a ser adotado para a segurança e o respeito aos direitos humanos.

