O campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, se transformou nesta quarta-feira (12) em palco de mobilização, arte e resistência durante a abertura da Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30 que reúne milhares de pessoas de movimentos sociais, povos tradicionais e organizações populares de todo o mundo. A programação, que segue até domingo (16), tem como objetivo trazer à tona as demandas da sociedade civil frente à crise climática e à urgência de um novo modelo de desenvolvimento.
A manhã foi marcada por uma barqueata que percorreu as águas do Rio Guamá até a Baía do Guajará, reunindo mulheres, jovens, ribeirinhos, pescadores, indígenas, quilombolas, agricultores familiares e representantes de diversas comunidades tradicionais. O ato, liderado pela “Caravana da Resposta”, simbolizou a união dos povos em defesa da Amazônia e da justiça climática, em contraponto às negociações oficiais da conferência da ONU.
Na abertura oficial, realizada no palco montado na UFPA, uma manifestação artística chamou a atenção por sua força simbólica. A professora Inês Antônia Santos Ribeiro, da Escola de Teatro e Dança da UFPA, coordenou um ato chamado “Funeral dos Combustíveis Fósseis”, em que participantes se conectaram em um corpo de cobra, representando a Boiuna, figura central da cultura amazônica. “A nossa intenção é que a Boiuna enterre os combustíveis fósseis. Já que ela está embaixo de Belém sustentando essa terra, ela vai afundar, vai levar, vai engolir simbolicamente os combustíveis fósseis”, afirmou Inês, destacando o papel da arte como instrumento político e cultural.
Para a professora, a arte é capaz de sensibilizar e mobilizar, trazendo mensagens profundas sobre a violência climática que afeta fauna, flora e comunidades tradicionais. “A arte é política, a arte é cultura. Pelos seus símbolos, ela pode representar a grande mensagem que queremos passar: de que somos vítimas de uma violência climática. Nesse território existem vidas que precisam ser sustentadas pelos nossos encantados, seres espirituais que são guardiões da natureza e da floresta”, completou.
A Cúpula dos Povos se organiza em torno de eixos temáticos como justiça climática, transição justa, direitos territoriais, combate ao racismo ambiental, feminismo popular, anticolonialismo, valorização da biodiversidade, soberania alimentar e cidades justas. Ao longo dos dias, estão previstas mais de 200 atividades paralelas, incluindo debates, plenárias, rodas de conversa, feiras, apresentações culturais e ações artísticas, todas voltadas para fortalecer a voz dos povos e exigir que suas demandas sejam consideradas nas decisões globais sobre o clima.
O evento também serve como contraponto às negociações oficiais da COP30, ao colocar vidas, direitos e territórios no centro do debate, em vez de metas e números. No encerramento, será entregue à presidência da COP30 a “Carta de Declaração dos Povos”, documento que consolida as propostas e reivindicações construídas coletivamente durante a mobilização. Para os organizadores, a Cúpula dos Povos é uma resposta coletiva à inércia dos governos e à urgência de um novo modelo de desenvolvimento que una justiça social e ambiental.

