Parte dos membros do Mercosul, liderados pela Argentina, divulgou nesta sábado um comunicado conjunto pedindo o restabelecimento da democracia e o respeito aos direitos humanos na Venezuela, assinado à margem da cúpula do bloco em Foz do Iguaçu (PR).[3][2]
Autoridades de seis países — Argentina, Paraguai, Panamá, além de representantes de Bolívia, Equador e Peru — manifestaram “profunda preocupação” com a crise migratória, humanitária e social no país e ratificaram a vigência do Protocolo de Ushuaia, reiterando o compromisso com a defesa da democracia e a libertação de presos políticos na Venezuela.[3][4]
O comunicado foi subscrito pelos presidentes Javier Milei (Argentina), Santiago Peña (Paraguai) e José Raúl Mulino (Panamá), entre outros signatários, mas não contou com a assinatura do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva nem do presidente uruguaio Yamandú Orsi.[2][3]
Fontes oficiais do Palácio do Planalto justificaram a ausência de Lula no documento pela avaliação de que um texto do Mercosul poderia ser interpretado por autoridades dos Estados Unidos como apoio a uma eventual ação militar contra a Venezuela, algo que o governo brasileiro considera inoportuno.[2]
O teor do comunicado evita referências a um eventual confronto entre Estados Unidos e Venezuela e não menciona o reforço da presença militar norte-americana no Caribe, ainda que o contexto internacional inclua medidas de Washington contra embarcações e bloqueios às exportações de petróleo venezuelanas, ações que os Estados Unidos dizem visar rotas de narcotráfico, enquanto o governo de Nicolás Maduro afirma que há interesses sobre as riquezas petrolíferas do país e que a pressão externa busca removê‑lo do poder.[2][4]
No encontro do Mercosul, o presidente Lula disse ter conversado por telefone com Maduro e com Donald Trump na busca de uma solução diplomática e advertiu que uma intervenção militar seria uma “catástrofe humanitária” e um precedente perigoso para a região; por sua vez, Javier Milei qualificou Maduro como “narcoterrorista” e saudou a pressão dos Estados Unidos sobre Caracas.[2][4]
A declaração lembra que a Venezuela permanece suspensa do Mercosul desde 2017 por ruptura da ordem democrática, com base no Protocolo de Ushuaia, e pede que as autoridades venezuelanas cumpram padrões internacionais relativos a detenções e garantam o devido processo e a integridade física dos detidos.[3][5]
O episódio expôs a divisão dentro do bloco sobre como lidar com a crise venezuelana: enquanto países assinaram o comunicado buscando uma posição mais explícita em favor da restauração democrática, Brasil e Uruguai mantiveram postura cautelosa, evitando associar o bloco a ações que possam ser interpretadas como endosso a uma solução militar.[2][3][4]

