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Brasileiro criador do “Aedes” que bloqueia dengue é eleito pela Nature

O engenheiro agrônomo brasileiro Luciano Andrade Moreira foi reconhecido em 2025 pela revista científica britânica Nature como uma das dez pessoas que mais influenciaram a ciência globalmente, integrando a prestigiada lista “Nature’s 10”. Moreira é destaque por seu trabalho pioneiro no uso da bactéria Wolbachia, um microrganismo natural encontrado em diversos insetos, aplicado em mosquitos Aedes aegypti para bloquear a transmissão de vírus responsáveis por doenças como dengue, zika e chikungunya.

Há mais de uma década, Moreira e sua equipe desenvolvem o chamado “Método Wolbachia”, que consiste em infectar populações de Aedes aegypti com essa bactéria. Os mosquitos portadores da Wolbachia, conhecidos como wolbitos, apresentam uma menor probabilidade de serem contaminados pelos vírus, pois a bactéria impede que os vírus se multipliquem dentro do mosquito. O mecanismo exato ainda é objeto de estudo, mas acredita-se que a Wolbachia compete com os vírus por recursos celulares ou estimula o sistema imunológico do mosquito a produzir proteínas antivirais.

A eficácia da técnica foi comprovada desde 2009 em estudos científicos, incluindo um artigo seminal assinado por Moreira. Além disso, evidências recentes indicam que a presença da Wolbachia induz uma resposta imune no mosquito por meio da ativação do caminho de sinalização Toll, mediada pela produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), contribuindo para a resistência viral.

O método tem aplicação prática significativa no combate às arboviroses no Brasil. Uma biofábrica localizada em Curitiba, resultado de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná e o World Mosquito Program, produz os mosquitos wolbitos. Ao serem liberados em áreas urbanas, esses mosquitos se reproduzem com a população nativa, transmitindo a Wolbachia para as gerações seguintes e ampliando a eficácia do controle populacional dos vetores.

Nesta estratégia nacional adotada pelo Ministério da Saúde, a técnica está em implantação em várias cidades brasileiras que apresentam alta incidência de arboviroses, como Balneário Camboriú, Brasília, Blumenau, Joinville, Luziânia e Valparaíso de Goiás. A seleção dessas cidades é feita com base em indicadores epidemiológicos que apontam para elevados índices de transmissão dessas doenças nos últimos anos.

A Wolbachia não é um organismo geneticamente modificado; seu uso representa uma alternativa sustentável e inovadora para reduzir a capacidade dos mosquitos em transmitir vírus sem a necessidade de pesticidas ou outras intervenções químicas. Em 2024, estudos de campo no Brasil demonstraram uma redução significativa dos casos de dengue em áreas onde o método foi aplicado, reforçando o potencial dessa tecnologia para impactar a saúde pública.

A escolha de Luciano Moreira pela Nature não configura um prêmio acadêmico, mas um reconhecimento internacional da importância e do impacto de suas contribuições para a ciência e para a saúde global, ressaltando o avanço no controle de doenças tropicais transmitidas por mosquitos.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)