O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou nesta quarta-feira (10) a fusão entre as redes de produtos e serviços para animais de estimação Petz e Cobasi, com restrições. A decisão cria a maior rede de pet shops do Brasil e uma das maiores da América Latina, consolidando um gigante do varejo pet com mais de 480 lojas em quase 20 estados, além de plataformas digitais e uma ampla rede de clínicas e hospitais veterinários.
A aprovação, no entanto, está condicionada à assinatura de um Acordo em Controle de Concentração (ACC) que exige a venda de 26 lojas no estado de São Paulo, a maioria delas localizadas na capital paulista. Segundo informações divulgadas pelas empresas, essas unidades representam cerca de 3,3% do faturamento combinado das duas companhias nos últimos 12 meses. O objetivo é reduzir a concentração no mercado e manter a concorrência em regiões onde a presença conjunta das marcas é mais forte.
O relator do processo, conselheiro José Levi Mello do Amaral, defendeu que o acordo pode resultar em uma situação concorrencial melhor do que a atual, especialmente por concentrar o desinvestimento na praça mais sensível à concentração. Além da venda de lojas, o acordo inclui compromissos comportamentais, como limites a cláusulas de exclusividade, embora os detalhes dessas regras não tenham sido divulgados publicamente.
O presidente do Cade, Gustavo Augusto Freitas de Lima, destacou que a decisão foi tomada com base na robustez do pacote de medidas e no interesse demonstrado por potenciais compradores das lojas que serão vendidas. Entre eles, está a Petlove, terceira maior varejista do setor no Brasil, que se manifestou formalmente no processo com interesse em adquirir algumas das unidades. “Se vai dar certo ou não é o que vamos medir e monitorar”, afirmou o presidente, ressaltando o compromisso do órgão em acompanhar de perto o cumprimento das exigências e o impacto da fusão sobre preços, diversidade de produtos e a entrada de novos concorrentes.
A Petlove foi a principal opositora da operação. A empresa, que atua majoritariamente no comércio eletrônico, mas também possui lojas físicas no Sudeste e no Sul, argumentou ao Cade que a combinação Petz–Cobasi criaria um grupo cerca de 30 vezes maior que o terceiro colocado do setor, o que, segundo ela, comprometeria a concorrência e poderia causar prejuízos aos consumidores. A empresa considerou que a venda de até 28 lojas seria um remédio “claramente inefetivo”, mas o conselho entendeu que o conjunto de medidas estruturais e comportamentais é suficiente para preservar a concorrência.
Com a fusão, a nova companhia terá faturamento anual estimado em torno de R$ 7 bilhões e deverá responder por aproximadamente 40% do mercado pet brasileiro, que movimenta cerca de R$ 80 bilhões por ano. A operação deve gerar sinergias com economia de custos na casa dos R$ 330 milhões. Pelo acordo societário, os acionistas da Cobasi ficarão com 47,4% da nova empresa, enquanto os da Petz deterão 52,6% da participação e ainda receberão R$ 400 milhões, sendo R$ 130 milhões por meio de dividendos.
A operação vinha sendo analisada pelo Cade desde meados de 2024. Inicialmente, a Superintendência-Geral do órgão havia aprovado a fusão sem restrições em junho, mas a decisão foi revista após recurso da Petlove. A diretoria de estudos econômicos do Cade alertou que, sem medidas corretivas, a operação poderia elevar preços em até 15% em mercados onde Petz e Cobasi são líderes. Em outubro, foi realizada uma audiência pública com representantes do governo, parlamentares, entidades de defesa dos animais e organizações de defesa da concorrência, além das empresas envolvidas.
A Petz, fundada em 2002, tem 7 mil funcionários e 264 lojas em 23 estados e no Distrito Federal. Em 2024, registrou receita líquida de R$ 3,3 bilhões e opera 112 clínicas e 15 hospitais veterinários, além de marcas como Seres, Adote Petz, Cansei de Ser Gato, Cão Cidadão e Zee.Dog. A Cobasi, criada em 1985, também emprega cerca de 7 mil pessoas e atua com 251 lojas em 94 cidades, com faturamento de R$ 3,2 bilhões no ano passado. Além da marca Cobasi, a empresa controla as marcas Mundo Pet e Pet Anjo.
Com a aprovação do Cade, Petz e Cobasi avançam para a próxima etapa da integração, mantendo suas marcas e operações, mas sob um mesmo grupo empresarial. O Cade reforçou que permanecerá vigilante e continuará acompanhando o setor para garantir que a fusão não gere efeitos negativos sobre a concorrência e os consumidores.

