**Chile decide sucessor de Boric em segundo turno presidencial marcado por polarização entre esquerda e direita**
Santiago do Chile – Cerca de 15,8 milhões de eleitores chilenos foram às urnas neste domingo (14) para o segundo turno da eleição presidencial, que define quem sucederá o atual presidente Gabriel Boric, impedido de concorrer à reeleição pela Constituição chilena. A disputa coloca frente a frente a ex-ministra do Trabalho Jeannette Jara, de 51 anos, militante do Partido Comunista e candidata da coalizão governista Unidad por Chile, e o ex-deputado José Antonio Kast, de 59 anos, líder do ultradireitista Partido Republicano, que busca a Presidência pela terceira vez.
No primeiro turno, realizado em 16 de novembro, Jara liderou com 3.476.554 votos (26,85%), superando Kast, que obteve 3.097.685 votos (23,92%). A vitória inicial da comunista, primeira de seu partido a chegar ao segundo turno em uma eleição presidencial, surpreendeu analistas e consolidou sua posição como rosto da esquerda progressista, após vencer as primárias da coalizão em junho com 60,2% dos votos, derrotando nomes como Carolina Tohá e Gonzalo Winter. Kast, por sua vez, ganhou fôlego com o apoio de outros candidatos de direita do primeiro turno, como Evelyn Matthei e Johannes Kaiser, que juntos somaram cerca de 70% dos votos presidenciais na rodada inicial, pavimentando o caminho para uma guinada conservadora.
A campanha, encerrada na sexta-feira (12), foi marcada por contrastes profundos. Jara, com origem humilde em Conchalí, Santiago, e trajetória iniciada aos 14 anos nas Juventudes Comunistas, destacou reformas sociais implementadas como ministra de Boric (2022-2025), incluindo a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, o aumento do salário mínimo – hoje o mais alto da América Latina – e avanços na previdência social, além de leis contra assédio laboral. Ela prometeu continuidade nessas pautas, com ênfase no combate ao crime organizado por meio de controle migratório eficaz, reforço policial, revogação do sigilo bancário de suspeitos e diálogo com indecisos. Kast, apelidado de “Bolsonaro chileno” por sua postura linha-dura, focou em endurecer políticas migratórias, reforçar lei e ordem, e promover iniciativas pró-mercado, atraindo eleitores preocupados com segurança e economia.
Pesquisas de institutos locais e internacionais indicaram vantagem para Kast, em um contexto de polarização que reflete a guinada à direita na América do Sul. As urnas abriram às 8h, e o voto obrigatório – novidade introduzida em 2022 – deve elevar a participação, contrastando com a abstenção de 53% há quatro anos, quando Kast perdeu para Boric.
O vencedor assumirá em 11 de março de 2026, enfrentando desafios como a produção de cobre e lítio, em que o Chile lidera mundialmente. No âmbito internacional, o país mantém laços crescentes com o Brasil, seu maior parceiro comercial na América do Sul para bens industriais, representando 2,1% do comércio brasileiro. Em abril de 2025, durante o Fórum Empresarial Brasil-Chile em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de Boric, defendeu a ampliação de acordos para impulsionar o crescimento mútuo, com o Brasil “obrigado a flexibilizar” como maior economia da região.
A apuração dos votos prossegue, com o Chile de olhos no resultado que pode redefinir seu rumo político nos próximos quatro anos.

