“Somos herdeiros de uma luta histórica”, dizia Luiza Bairros. Essa frase ecoa com força na exposição “Luiza Bairros: Lentes e Voz”, inaugurada na Fundação Palmares, em Brasília, revisitando a trajetória de uma das mais importantes intelectuais negras do Brasil. A mostra, que nasce como uma “feminagem”, traça um panorama da vida e obra de Luiza Bairros, destacando sua atuação no movimento negro, sua participação na formulação de políticas públicas e sua atuação em instituições de movimentos sociais. Entre as peças expostas, estão registros de sua passagem como ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial entre 2011 e 2014, além de trabalhos produzidos por artistas plásticas de diferentes cidades do país, expressando suas visões sobre a intelectual.
A sobrinha de Luiza, Fernanda Bairros, esteve presente na inauguração e afirmou que não é apenas sobrinha, mas “fruto do projeto político construído” por ela. Fernanda lembrou que a tia dedicou a vida inteira ao combate ao racismo e ao sexismo, deixando um legado que continua inspirando novas gerações. O presidente da Fundação Palmares, João Jorge, destacou o impacto de Luiza na política institucional, afirmando que todas as mulheres negras na política hoje são descendentes de Luiza Bairros, Lélia Gonzales e Beatriz Nascimento, figuras que abriram caminhos para a representatividade negra.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também prestigiou o evento e recordou sua convivência com Luiza na Fundação Palmares, espaço que foi referência para artistas negros e negras. Para ela, a exposição é uma oportunidade para que novas gerações conheçam o trabalho de Luiza, especialmente em um momento tão significativo, como véspera da Marcha Nacional das Mulheres Negras, movimento do qual Luiza foi uma das principais articuladoras.
A filósofa Sueli Carneiro, amiga de longa data de Luiza, expressou saudade da ativista, destacando sua inteligência, bravura e coragem. “Nós estamos aqui porque amávamos e amamos Luiza, seu legado e sua história. Sinto falta da minha amiga, sinto falta da companheira, especialmente num momento tão difícil como este, em que o fascismo nos espreita o tempo todo”, afirmou. Sueli agradeceu a curadoria da exposição, ressaltando que ela não é apenas uma homenagem, mas uma forma de manter vivo o legado de Luiza.
A curadora Martha Rosa encerrou o evento lembrando que a luta travada por Luiza Bairros não é apenas para o movimento negro, mas para todo o Brasil. “A gente tem um projeto negro para o Brasil”, afirmou, reafirmando o compromisso de continuar a luta por igualdade, justiça e dignidade para todos.

