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Comissão da Câmara denuncia execuções em operação policial no Rio

A megaoperação policial realizada no dia 28 de outubro de 2025 nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, resultou na morte de 122 pessoas, tornando-se a ação policial mais letal da história da cidade. O relatório divulgado pela Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados aponta graves violações de direitos humanos durante a operação, com registros de execuções, tortura e desrespeito ao devido processo legal. Vítimas apresentavam pulsos amarrados, indicando execuções após rendição, e casos chocantes como o de um jovem encontrado decapitado no Instituto Médico Legal (IML), apesar de ter sido entregue vivo à polícia por sua mãe. Também foram constatadas marcas de facadas em corpos, conduta atribuída ao Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). A operação ainda deixou cinco policiais mortos, que, segundo a comissão, foram expostos a riscos extremos sem planejamento, suporte médico ou logística adequada, configurando também negligência do governo estadual.

A ação envolveu cerca de 2.500 agentes das polícias Militar e Civil, com ordens para cumprir 100 mandados de prisão contra membros do Comando Vermelho, uma das maiores facções criminosas do país. O tiroteio intenso ocorreu principalmente em áreas de mata, onde os suspeitos se refugiaram, e a estratégia policial englobou o cerco e encurralamento desses grupos em um cenário comparado por autoridades a um campo de guerra. Contudo, a falta de proteção adequada aos locais dos confrontos permitiu que moradores retirassem corpos, o que gerou preocupações sobre a integridade das provas para investigação. Armas apreendidas durante a ação foram expostas à imprensa sem os devidos cuidados, comprometendo a cadeia de custódia.

O relatório denuncia, ainda, a desorganização no atendimento às famílias das vítimas e o colapso na estrutura do IML devido ao elevado número de mortos. A comissão solicitou a federalização das investigações, enfatizando que há violações explícitas à Constituição brasileira e tratados internacionais que protegem direitos fundamentais, como a vida, a integridade física e a proibição de execuções arbitrárias e tortura. Oficiais e entidades foram acionados para garantir investigações independentes, preservação das provas e atuação de peritos externos.

A operação, que teve como objetivo desarticular o Comando Vermelho, foi marcada também por denúncias de abusos praticados por policiais, incluindo roubo, arrombamento de casas e ameaças a moradores. Imagens de câmeras corporais indicam manipulação e interrupção intencional das gravações, dificultando a apuração completa dos fatos. A Polícia Civil do Rio informou que as ações foram acompanhadas pelo Ministério Público e comunicadas ao Supremo Tribunal Federal, classificando acusações contrárias como ilações. No entanto, organizações internacionais, como a Human Rights Watch e as Nações Unidas, manifestaram preocupações quanto à condução das investigações e pediram por uma reforma ampla nas práticas de policiamento no Brasil.

A repercussão da operação ultrapassou as fronteiras brasileiras: o governo argentino classificou as facções comandadas pelo Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital como organizações narcoterroristas, intensificando a fiscalização nas fronteiras com o Brasil.

O caos instalado nos territórios da Penha e do Alemão incluiu bloqueios de vias expressas, fogo em veículos e confrontos continuados durante horas, refletindo a complexidade e a gravidade da operação que até o momento traz mais dúvidas do que respostas para a população carioca e para os órgãos de direitos humanos. A dor das famílias das vítimas e a indignação por violações graves clamam por justiça e responsabilização dos envolvidos, enquanto o debate sobre os limites do uso da força e o respeito aos direitos fundamentais permanece aberto.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)