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Comunidades ajudam a reconstruir escolas resilientes a crise climática

Mais de um ano após as enchentes históricas que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024, o estado ainda carrega as marcas profundas deixadas pelo maior desastre climático de sua história. Escolas destruídas, crianças e adolescentes traumatizados, comunidades inteiras desabrigadas — os impactos vão além das perdas materiais e estruturais: atingem o cerne do direito à educação, do acolhimento e da proteção social que a escola representa para milhares de famílias gaúchas. O saldo dessa tragédia foi devastador: cerca de 2,4 milhões de pessoas afetadas diretamente, 184 mortes e bairros inteiros em cidades como Porto Alegre, São Sebastião do Caí e outras centenas de municípios debaixo d’água.

Apesar dos esforços em curso, a reconstrução ainda não alcançou todas as localidades. Oito escolas estaduais e a própria Secretaria de Educação do RS ainda não retornaram aos edifícios originais, funcionando em espaços provisórios enquanto aguardam obras de readequação. O processo de retorno tem sido, além de lento, desafiador: algumas escolas ficaram dezenas de dias sem aula, gerando consequências pedagógicas, sociais e emocionais para toda a comunidade escolar. O trauma coletivo é perceptível: crianças e adolescentes demonstram medo, pesadelos frequentes e, em alguns casos, aumento da agressividade. O regresso à rotina escolar foi marcado por perdas de materiais, mobiliários, brinquedos pedagógicos e equipamentos tecnológicos, além da insegurança quanto ao futuro.

Mas, entre escombros e incertezas, há sinais de resiliência e reinvenção. A secretária de Educação, Raquel Teixeira, destaca que a reconstrução não é apenas física, mas também pedagógica e emocional. “Não se trata apenas de reconstruir os edifícios, mas de colocar em prática um plano de contingência que torne não apenas os prédios, mas toda a comunidade escolar, mais preparados para tempestades, alagamentos e outros fenômenos naturais”, explica. Em parceria com o Banco Mundial, foram mapeadas 730 escolas em situação de risco, das quais 87 já começaram a implementar planos pilotos de adaptação climática. O objetivo é que, diante de futuras emergências, cada escola saiba agir preventivamente e mantenha o mínimo de rotina possível para preservar o aprendizado e o bem-estar dos estudantes.

No debate sobre como reconstruir, ganhou força a perspectiva de que as escolas devem ser mais do que prédios: devem ser espaços de acolhimento, proteção e sustentabilidade. O exemplo do Ginásio Resiliente, construído para funcionar tanto como quadra esportiva quanto abrigo emergencial, ilustra essa abordagem. Arquitetos e educadores defendem que a construção ou reforma de escolas deve considerar as particularidades de cada território, ouvir a comunidade e integrar soluções sustentáveis — como áreas externas naturalizadas, percursos pedagógicos ligados à biodiversidade e sistemas de alerta precoce.

O protagonismo comunitário tem sido fundamental. Muitas das ações de reconstrução e prevenção nasceram da articulação entre escolas, famílias, poder público e organizações sociais. “O plano de contingência só faz sentido se for discutido por toda a comunidade, escola por escola. Porque o que leva as pessoas ao desespero é não saber o que fazer”, afirma Raquel Teixeira. Ela enfatiza que a experiência do Rio Grande do Sul pode servir de referência para outras regiões do mundo, à medida que eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes.

A lição que fica é clara: não basta reconstruir paredes — é preciso fortalecer redes de proteção, investir em prevenção, formar professores e estudantes para lidar com o inesperado, e, principalmente, garantir que a escola siga sendo porto seguro, um espaço onde se ensina não apenas a ler, escrever e calcular, mas também a conviver, resistir e transformar. Enquanto o Rio Grande do Sul ainda chora suas perdas, ele aponta, com suas escolas, um caminho possível para tempos marcados pela urgência climática.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)