Negociadores de 67 países se reuniram em Brasília durante dois dias para a Pré-COP30, evento preparatório para a conferência sobre mudanças climáticas marcada para ocorrer em Belém em novembro. A reunião não resultou em acordos formais ou novas metas, mas permitiu mapear os principais pontos de entendimento e identificar possíveis impasses que serão discutidos na COP30, inédita ao ser realizada na Amazônia.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, destacou que embora haja muitos temas administrativos entre os 140 oficiais das negociações, existem cerca de seis a sete questões muito importantes e outras 20 de grande relevância. Ele ressaltou que os países foram claros quanto aos limites do que podem aceitar, o que ajuda a orientar as negociações futuras. Para ele, o evento foi útil, pois criou um quadro inicial para avançar no diálogo, ainda que o consenso definitivo só possa ser confirmado nos momentos finais da conferência.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reforçou que o estabelecimento desses limites abre espaço para conversas mais direcionadas e profundas durante a COP30. Ela enfatizou a urgência de financiamento para ações que garantam a preservação das florestas e a conservação dos oceanos, destacando a necessidade de atuação global e solidária frente a fenômenos climáticos extremos, que não respeitam fronteiras geopolíticas.
Entre os temas discutidos esteve a transição energética, incluindo a proposta brasileira de quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2030, e a prioridade para a agenda de adaptação climática, com reconhecimento da necessidade de novos instrumentos econômicos para valorizar a natureza.
No campo das metas climáticas, até o momento somente 62 dos 195 países apresentaram formalmente suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), representando cerca de 31% das emissões globais. Países grandes emissores como a União Europeia e Índia ainda não renovaram seus compromissos, que foram pactuados há uma década no Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC.
A Pré-COP também destacou a importância do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), anunciado pelo Brasil em articulação com diversos países para financiar a preservação dos biomas florestais tropicais, fundamentais para o equilíbrio climático global. Com orçamento previsto de US$ 125 bilhões, o fundo destinará 20% dos recursos diretamente a comunidades indígenas e tradicionais, que desempenham papel crucial na conservação.
Representantes da sociedade civil, entretanto, avaliaram que, apesar de ter criado um ambiente propício para o multilateralismo, a Pré-COP deixou a desejar no que toca ao engajamento mais contundente para a proteção das florestas, um tema prioritário para a COP30 dada a sua realização na Amazônia.
No evento, também foi enfatizado o apelo de crianças e adolescentes brasileiros, que entregaram 600 cartas aos negociadores solicitando ações concretas para garantir justiça climática e proteger o futuro das próximas gerações.
A expectativa é que as negociações avancem rumo a soluções práticas na COP30, priorizando a implementação de acordos para enfrentar a crise climática global de forma colaborativa e eficaz.
