O Rio de Janeiro foi palco, no dia 28 de outubro, da Operação Contenção, considerada a mais letal da história do estado. Realizada pelas polícias Civil e Militar, a ação mobilizou cerca de 2.500 agentes e teve como objetivo conter o avanço do Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade. O balanço oficial da operação aponta 121 mortos, sendo quatro policiais – dois civis e dois militares – e 117 suspeitos. Além disso, 113 pessoas foram presas, entre elas 33 vindas de outros estados, e dez adolescentes foram apreendidos. A ação resultou também na apreensão de mais de uma tonelada de drogas e 118 armas, sendo 93 fuzis.
Os confrontos foram intensos e marcados por tiroteios, barricadas em chamas e o uso de bombas lançadas por drones por parte dos criminosos. Moradores relataram pânico generalizado, com escolas, postos de saúde e comércios fechados durante todo o dia. A operação foi amplamente criticada por especialistas, movimentos sociais e organizações internacionais, que denunciaram a ação como um “massacre” e exigiram investigação independente. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a operação como “desastrosa”, destacando que a ordem judicial era de prisão, não de matança.
O governador Cláudio Castro, no entanto, declarou a operação um “sucesso”, afirmando que todos os mortos eram criminosos, embora o reconhecimento dos corpos ainda estivesse em andamento. A Polícia Civil informou que 97 dos mortos tinham histórico criminal relevante e 59 possuíam mandados de prisão. No entanto, 17 das vítimas não tinham antecedentes criminais, e 12 delas apresentavam indícios de participação no tráfico apenas em redes sociais. O principal alvo da operação, Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, líder do Comando Vermelho, conseguiu escapar.
A Comissão de Direitos Humanos do Senado anunciou que vai investigar a operação, pedindo esclarecimentos sobre o planejamento e as medidas tomadas para proteger a população, especialmente crianças. A Organização das Nações Unidas também se manifestou favorável a uma investigação independente, para garantir responsabilização e proteção às testemunhas e familiares das vítimas.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Cesar dos Santos, recebeu uma carta de condolências do Consulado Geral dos Estados Unidos, assinada por James M. Sparks, do estafe da Divisão Antidrogas. Na mensagem, Sparks reconheceu “o valor e a honra dos profissionais que deram suas vidas em defesa da segurança pública” e reiterou o respeito e a admiração pelo trabalho das forças de segurança do estado. O governo do Rio informou que mantém constante interlocução com instituições internacionais de combate ao narcotráfico, mas ressaltou que não há permissão para ações do governo americano em solo brasileiro.
A Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro criou um observatório para acompanhar a apuração sobre o cumprimento da lei pelas polícias Civil e Militar durante a Operação Contenção. Nenhuma das pessoas mortas havia sido denunciada à Justiça pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

