O encerramento da Cúpula dos Povos, realizada em Belém do Pará, marcou um momento histórico de mobilização e reivindicação por mudanças urgentes frente à crise climática. Durante o evento, que reuniu milhares de pessoas de diversas comunidades, movimentos sociais e organizações, foi entregue ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, uma carta final com as principais demandas construídas ao longo de intensos debates e assembleias.
A carta reúne propostas centrais como a demarcação imediata de terras indígenas e quilombolas, reforma agrária popular, combate ao racismo ambiental, fim da exploração de combustíveis fósseis e uma transição energética justa e soberana. O documento também exige que o financiamento climático não passe por instituições como o FMI e o Banco Mundial, defendendo que os países do Norte paguem sua dívida socioambiental histórica. Além disso, há reivindicações pela proteção dos defensores de direitos humanos, fim da criminalização de movimentos sociais e valorização do trabalho de cuidado como essencial para a reprodução da vida.
Corrêa do Lago afirmou que levará as reivindicações para as negociações oficiais da COP30, destacando a importância da participação popular no debate climático. “Vocês sabem que isso [a COP] é basicamente uma grande negociação dentro das Nações Unidas, com 195 países que têm que estar de acordo com tudo, porque é tudo por consenso. Então, é uma negociação superdifícil. Mas saber que a sociedade civil mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional”, disse o presidente da conferência.
A carta final também foi marcada por críticas ao modelo econômico capitalista, apontado como principal responsável pela crise climática crescente. O documento rejeita as chamadas “falsas soluções de mercado”, como créditos de carbono e geoengenharia, e propõe um projeto político orientado pelo internacionalismo popular e pelo feminismo. As propostas incluem o fortalecimento de saberes e práticas locais, além de exigir maior participação dos povos nas decisões que afetam seus territórios.
Além da carta principal, foi entregue também um documento elaborado por cerca de 700 crianças e adolescentes, que expressaram temor pelo futuro caso não sejam tomadas ações práticas para conter a crise climática. “Para que as próximas crianças e adolescentes não tenham medo do calor, da fumaça, da falta de água, da extinção dos animais. Para que elas possam desenhar florestas vivas e não florestas morrendo”, diz trecho do texto, que reforça o desejo de um mundo com esperança e sem medo.
A mobilização em Belém foi marcada por um clima de resistência e união, com pessoas de múltiplas frentes sociais e nacionalidades emocionadas por estarem juntas nesse momento simbólico. A entrega da carta representa o momento em que as reivindicações elaboradas nos territórios chegaram formalmente à esfera oficial da COP30, reforçando a necessidade de que as vozes dos povos sejam ouvidas nas decisões globais sobre o futuro do planeta.

