O edifício do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), localizado no centro do Rio de Janeiro, está perto de receber o tombamento definitivo pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A decisão será tomada em reunião do Conselho Consultivo, a instância máxima do instituto, prevista para o final deste mês. O prédio, construído em 1910 com inspiração francesa para abrigar a Repartição Central de Polícia, se tornou um símbolo da repressão política durante a ditadura militar, sendo usado entre 1962 e 1975 para prisão e tortura de opositores do regime.
O Iphan justifica o tombamento pela relevância histórica e artística do imóvel, destacando seu “papel simbólico nas lutas sociais e políticas em favor da democracia e da liberdade”. Com essa proteção, qualquer intervenção ou alteração no prédio exigirá aprovação prévia do instituto. A medida atende também a demandas da sociedade civil e do Ministério Público Federal, que há décadas reivindicam a preservação do local e a instalação de um centro de memória para lembrar as violações de direitos humanos ocorridas ali.
Além da estrutura arquitetônica, o prédio possui carceragens originais, celas individuais e salas de interrogatório com isolamento acústico, que representam o histórico de violência estatal contra perseguidos políticos. Destacam-se registros e marcas deixadas nas celas femininas que precisarão ser preservadas. Importantes vítimas da repressão passaram por ali, como Olga Benário, Nise da Silveira, Abdias Nascimento e Luís Carlos Prestes.
O edifício está atualmente sob a posse do governo federal, mas cedido para uso da Polícia Civil do Rio de Janeiro desde a década de 1960, com a condição de preservação do imóvel. Durante cerca de 15 anos recentes, entretanto, o local permaneceu abandonado, o que preocupa organizações que defendem a memória e os direitos humanos.
Com o tombamento definitivo, o Dops será inscrito nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes do Iphan, garantindo proteção legal e integrando-o ao conjunto oficial de bens culturais valiosos para o Brasil. A preservação deste espaço é vista como um ato de reparação simbólica e compromisso com a memória histórica, para que as atrocidades cometidas naquele local nunca sejam esquecidas e não se repitam no futuro.

