O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou buscas na residência do deputado federal Antônio Doido (MDB-PA) no âmbito da Operação Igapó, deflagrada para apurar uma organização criminosa acusada de saques de R$ 48 milhões em agências bancárias no Pará[3]. Ao cumprir o mandado nas primeiras horas da manhã, agentes da Polícia Federal encontraram um celular na área externa do prédio onde o parlamentar mora, em Brasília; testemunhas relataram que o aparelho foi arremessado pela janela durante a ação policial[3][4]. A investigação, segundo relatório parcial da PF cujo sigilo foi levantado por Dino, aponta para um complexo esquema de lavagem de dinheiro que teria como origem recursos de contratos públicos e parte deles destinados a fins eleitorais e à aquisição de patrimônio[3]. Antônio Doido é investigado por desvio de verbas públicas por meio de diversas empresas de fachada, especialmente no ramo da construção civil, que, conforme a PF, teriam sido comandadas por sua esposa, Andrea Costa Dantas[3]. As apurações se basearam em material apreendido no telefone de Francisco Galhardo, policial militar aposentado que, segundo a Polícia Federal, atuava a mando do deputado e era responsável por efetuar saques em espécie desde pelo menos 2023[3]. O relatório descreve que Galhardo utilizava um grupo de policiais militares para movimentar grandes quantias em espécie sob a influência do deputado federal Antônio Leocádio dos Santos, segundo a análise do celular do militar[3]. Galhardo foi preso em flagrante em outubro de 2024 em uma agência bancária em Castanhal, no Pará, com R$ 4,6 milhões em espécie, e os peritos notaram que mensagens temporárias do WhatsApp — usadas por Doido, segundo os investigadores — deixavam poucos registros no aparelho de Galhardo[3]. Parte dos valores apreendidos teria sido empregada para custear deslocamentos de policiais que atuariam no interior do Pará, inclusive com a compra de um roteador via satélite para manter comunicação em área remota, conforme apontou a PF[3]. Em manifestação que autorizou as diligências, a Procuradoria-Geral da República (PGR) ressaltou que, além das movimentações financeiras suspeitas, há indícios de possível instrumentalização da estrutura policial em benefício de candidaturas políticas[3]. A PF afirmou que os investigados teriam desviado recursos públicos por meio de fraudes em licitações, utilizando os valores para pagamento de vantagens indevidas e ocultação de patrimônio[1][2]. No pedido de novas buscas, a Polícia Federal informou ter registros que indicam continuidade dos desvios, com “centenas de milhões de reais” ainda sendo repassados a empresas vinculadas ao grupo investigado, com origem em recursos do erário cuja destinação não seguia interesse público[3]. O ministro Flávio Dino também negou pedido da PF para buscas no gabinete do deputado na Câmara, justificando que as diligências têm foco em fatos ocorridos no Pará e não demonstraram utilidade específica de uma busca no gabinete para a investigação[3]. Além do apartamento do parlamentar, os mandados da Operação Igapó incluíram buscas contra o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral; ao todo foram determinadas apreensões de aparelhos eletrônicos e a quebra de sigilos telefônico e telemático de 13 pessoas físicas e dez pessoas jurídicas, além do bloqueio de R$ 17 milhões em valores eventualmente encontrados em contas ligadas às empresas e pessoas investigadas[3]. A reportagem procurou o deputado Antônio Doido e assessores de seu gabinete para manifestação, conforme informou a Agência Brasil[3].

