Portal NegoPB

Notícia de verdade.

Diplomatas indígenas relatam experiência em negociações da COP30

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Belém, marcou um novo capítulo na história das COPs ao registrar a maior participação de povos originários e comunidades tradicionais até hoje. O termo “kuntari katu”, que nas línguas indígenas nheengatu e tupi significa “aquele que fala bem”, passou a representar a voz ativa de jovens indígenas que, além de protagonizarem mobilizações nas ruas e eventos de debate pela cidade, entraram diretamente nos espaços das complexas negociações diplomáticas internacionais.

Essa presença significativa foi possível graças ao Programa Kuntari Katu, fruto de uma parceria entre o Ministério dos Povos Indígenas, o Ministério das Relações Exteriores e o Instituto Rio Branco. O curso, que durou mais de um ano, preparou 30 jovens indígenas de todas as regiões do Brasil para atuar nas negociações da COP30, capacitando-os para defender as pautas de seus povos em um dos palcos mais importantes da política climática global.

Na Zona Azul, área reservada aos processos oficiais de negociação, esses “diplomatas indígenas” acompanharam discussões sobre metas de adaptação climática, indicadores de mitigação e propostas de financiamento para a proteção dos territórios tradicionais. Entre eles, está Eliel Camlem, do povo Xokleng Laklãnõ, que destacou a força dos povos indígenas mesmo quando em minoria nos espaços decisórios. “Muita coisa sobre esses espaços eu aprendi na graduação, mas teoria e prática são coisas diferentes. O que eu posso destacar sobre estar e aprender nesses espaços, e que muitas vezes não dos damos conta, é a força que os indígenas possuem, mesmo sendo poucos acompanhando a negociação”, afirmou.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ressaltou que o objetivo do programa é garantir que as demandas dos povos originários sejam levadas diretamente às mesas de negociação, reforçando a importância dos territórios indígenas para a mitigação da emergência climática. “Kuntari Katu significa aquele que fala bem. É isso o que esses jovens estão fazendo: falando sobre suas realidades e a importância dos territórios indígenas para a mitigação da emergência climática dentro dos espaços decisórios”, disse.

A COP30 também foi marcada por manifestações e marchas, como a Marcha Global Indígena, que reuniu milhares de pessoas em Belém para reforçar reivindicações como a demarcação de terras, a proteção integral dos territórios, o fim da exploração de combustíveis fósseis e o acesso facilitado ao financiamento climático. Lideranças indígenas de diversos biomas brasileiros e internacionais enfatizaram a urgência dessas pautas, exigindo participação efetiva nas decisões que moldarão o futuro do planeta.

A presença indígena na COP30 não se limitou apenas à mobilização, mas também à construção de propostas concretas, como a destinação de pelo menos 20% do Fondo Bosques Tropicais para Siempre para povos indígenas e comunidades tradicionais, além do lançamento de programas de proteção de terras e projetos de recuperação de áreas degradadas em territórios indígenas.

Com a maior delegação indígena da história das COPs, a conferência em Belém consagrou o protagonismo dos povos originários na luta contra a crise climática, mostrando que a defesa da biodiversidade e dos territórios tradicionais é essencial para um futuro sustentável.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
Previous post Caravana África Diversa destaca semelhanças entre Rio e Nantes
Next post Tarifaço continua a afetar 22% das exportações, diz Alckmin
Fechar
Menu