A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém e encerrada em 22 de novembro de 2025, marcou um avanço importante ao incluir, pela primeira vez, menções explícitas aos afrodescendentes em quatro documentos oficiais do evento. Essas referências aparecem nos textos relativos à Transição Justa, ao Plano de Ação de Gênero, ao Objetivo Global de Adaptação e ao Mutirão, todos parte do acordo que busca mitigar os impactos do aquecimento global e promover ações de adaptação e justiça climática. A inserção desse tema ocorreu poucos dias após o feriado nacional da Consciência Negra no Brasil, reforçando o reconhecimento da importância da igualdade racial nas políticas ambientais.
O documento sobre Transição Energética destaca a necessidade de garantir uma participação ampla e significativa de todos os grupos afetados, incluindo trabalhadores informais, povos indígenas, comunidades locais, pessoas de ascendência africana, mulheres e outras populações vulneráveis, além de ressaltar o respeito aos direitos humanos na definição dessas trajetórias de mudança. Já o Objetivo Global de Adaptação enfatiza as contribuições dos afrodescendentes e a importância de integrar perspectivas de gênero, direitos humanos e justiça social em processos participativos e transparentes. O Plano de Ação de Gênero reforça o reconhecimento da atuação de mulheres e meninas afrodescendentes na luta climática. Por sua vez, o Mutirão, ferramenta de mobilização contínua e transversal à COP30, valoriza o papel ativo de grupos como povos indígenas, comunidades locais e pessoas de ascendência africana, destacando sua contribuição para o progresso coletivo rumo às metas do Acordo de Paris.
Esse reconhecimento foi celebrado pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que ressaltou que a COP30 reconhece formalmente que as populações afrodescendentes são umas das mais impactadas pelas mudanças climáticas, embora tenha destacado a necessidade de avançar na formulação de políticas climáticas inclusivas que considerem as realidades específicas de territórios marginalizados e afetados pelo racismo ambiental. A mobilização da sociedade civil, em especial do Geledés Instituto da Mulher Negra, foi fundamental para pressionar pela inclusão destas demandas no âmbito internacional, o que foi considerado um avanço significativo para promover políticas climáticas mais justas, eficazes e enraizadas nas necessidades das comunidades historicamente vulnerabilizadas.
Além disso, a inclusão dos afrodescendentes na COP30 segue o movimento iniciado um ano antes na COP16 da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, que já havia reconhecido a participação de povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais nos debates sobre preservação ambiental. A COP30 em Belém, apesar de ter enfrentado desafios e serem apontadas lacunas em temas como o distanciamento de combustíveis fósseis, consolida esse passo relevante ao formalizar o protagonismo dos afrodescendentes nas negociações climáticas globais, reforçando a necessidade de políticas climáticas interculturais e socialmente inclusivas.

